Se não tivermos dados, toda
decisão será um jogo de sorte ou azar. Por isto, dados e estatísticas são muito
importantes. Por exemplo, no Brasil, o técnico de vôlei Bernardinho e sua
equipe têm conseguido grandes resultados para o time nacional de vôlei usando
estatísticas. Eles monitoram tudo o que é feito por cada jogador do time do
Brasil e também dos adversários. Registram todos os tipos de jogadas, se
resultaram em fracasso ou sucesso, como estava a posição dos jogadores, e com
isto extraem relatórios de que jogadores estão melhor e quais estão com pior
desempenho. Então, quando um brasileiro for "sacar", eles analisam em
tempo real as estatísticas e verificam para que adversário deve ser direcionado
o saque e de que forma (tipo de saque). E isto é feito para outras estratégias
além do saque.
Michael Lewis (2004), no livro
Moneyball (que virou filme com Brad Pitt), faz uma grande discussão sobre esta
dicotomia entre usar ou não estatísticas. Ele discorre sobre o caso real do
Oakland Athletics, time de baseball americano, para expor seus argumentos. A
questão toda se desenrola na diferença entre olheiros humanos e sistemas estatísticos
para fazer previsões sobre jovens jogadores. Cada time escolhe os jogadores
mais promissores no início da temporada. A grande maioria dos clubes utiliza,
até hoje, os olheiros (scouts).
Dados são melhores para apoiar
decisões porque evitam o “achômetro” ou “achismo”. Carl Sagan (“O mundo
assombrado por demônios”) e Shermer (2011) criticam o crescente uso de
pseudociências no lugar da Ciência e do método científico.
(Ver a reportagem “Einstein e
Newton estavam errados: estimulada por políticos nacionalistas, 'pseudociência'
avança na Índia” https://www.bbc.com/portuguese/geral-46780542)
A falta de dados e de métodos
científicos pode levar a grandes erros (ver reportagem sobre jornalista
contrária a vacinas que morreu de H1N1 https://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/entretenimento/2019/01/05/apresentadora-que-fazia-campanha-contra-vacina-morre-de-gripe-suina-nos-estados-unidos.htm).
Isto não significa que intuições
e sentimentos não possam se usados no processo de decisão. Segundo Sinclair e
Ashkanasy (2005), intuição é um modo não sequencial de processamento de
informações que combina elementos cognitivos e afetivos e resulta em
conhecimento direto sem uso de raciocínio consciente. Intuição é diferente de
heurísticas, que são estratégias racionais de pouco esforço (segundo Tversky e
Kahnemann).
Intuição é um palpite, mas não
uma adivinhação. Ela é usada numa decisão sem muita explicação de onde veio, se
ela está certa ou não ou por que devemos utilizá-la. É como saber algo sem
saber explicar como. O ser humano possui uma certa capacidade para tomar
decisões rápidas com pouca informação. A intuição não deve ser confundida com
caminho mais fácil (preguiça). Ela deve ser usada quando a racionalidade está
limitada. Ela deve ser precedida por dados.
Gunther (2013) acredita que
usamos dados do inconsciente, que foram colhidos e armazenados antes, mas que
não temos consciência de quando os estamos usando. É como reconhecer um amigo
na rua ou a voz de alguém no telefone. Não tem explicação, mas a gente faz e na
maioria das vezes não erra. Gunther cita Alfred P. Sloan, ex-executivo da GM:
"o ato final da decisão é intuitivo". Isto porque é uma escolha entre
alternativas. Ninguém sabe qual a melhor alternativa ou se uma delas vai dar
certo ou não. Se soubéssemos, não seria decisão e sim "bola de
cristal".
Entretanto, o próprio Gunther (2013)
recomenda não confiar na primeira impressão, e sugere que coletemos muitos
dados. Kahneman também concorda: é um grande risco tomar decisões usando a área
preguiçosa e irracional do cérebro.
Por exemplo, grandes negócios são
fechados somente após o encontro presencial entre as partes. Os homens de
negócios dizem que é importante "olhar nos olhos". Isto também serve
para contratações para empregos. Gladwell (2005), no livro “Blink – a decisão num
piscar de olhos”, conta diversos casos onde especialistas tomam decisões
baseados em intuições e não conseguem explicar como tomaram as decisões
(corretas).
A intuição inclusive já evitou
uma guerra nuclear. O militar russo Petrov avaliou intuitivamente os dados que
tinha e combinou com avaliações anteriores sobre falhas no sistema, concluindo
que não devia apertar o botão para enviar mísseis.
Ayres (2008) compara decisões
tomadas com estatística x intuitivas. A conclusão de seus estudos é que números
são melhores como base para análise, mas a intuição é importante para levantar
possibilidades. O ideal é tomar decisão sobre fatos e dados confirmados.
Mas a intuição ajuda a identificar
hipóteses e criar alternativas, além de ser útil para avaliar quais variáveis
influenciam o processo e também para entender e interpretar os resultados
estatísticos. Segundo Silver (2013), meteorologistas melhoram em 25% as
previsões de precipitações feitas por computador e em 10% as da temperatura.
Neste caso, as informações visuais são melhores interpretadas por seres humanos
do que pelo computador. É por isto que
Por outro lado, avaliadores humanos
muitas vezes erram porque se preocupam mais com aparências. Então os sistemas
baseados em estatísticas podem ser melhores pois não são influenciados por
ruídos e variáveis que não implicam em resultados e conseguem se adaptar melhor
a pequenas variações nos parâmetros. Por outro lado, humanos vão melhor em
alguns casos porque usam uma abordagem híbrida, com uma quantidade maior de
informações do que a oferecida apenas pelas estatísticas. E ainda acumulam
informações com o passar do tempo (não são sistemas estáticos). Um bom especialista
humano também consegue informações privilegiadas, que a maioria não pode obter
(por exemplo, no baseball, dados sobre a situação social e familiar do
jogador). Se o investidor de bolsa de valores utilizar somente as informações
públicas, a que todos têm acesso, não terá nenhuma vantagem. Os investidores
precisam encontrar detalhes de informações que os outros não possuem.
Uma boa ideia então é combinar
dados estatísticos com intuição, e não somente usar um ou outro. Onde a
intuição não é detalhista, os dados podem nos ajudar a lembrar detalhes. Onde a
estatística não é completa, a observação humana pode completar uma análise. Não
há nada que garanta o resultado, seja utilizando dados estatísticos ou
intuições. Mas é melhor para uma decisão ter mais dados (sejam confirmados ou
não) e um bom especialista humano para analisar os dados.