domingo, 24 de novembro de 2013

Cenários Futuros e Previsões

Para quem assistiu a palestra da Patrícia Hartmann no KM-RS 2013 (o Jorge Audy fez um belo resumo do simpósio, clique aqui), ao final houve uma discussão interessante sobre previsões e cenários futuros. Sobre este assunto deixo 3 dicas de livros.

1) O Sinal e o Ruído, de Nate Silver
Nate Silver discute como as previsões são feitas e principalmente porque elas fracassam. É muito em razão dos ruídos, que atrapalham as previsões. Este é um caso de "menos é mais", ou seja, muitos dados podem confundir.
Ele discute técnicas estatísticas e como a estatística pode confundir interpretações. Ele dá exemplos de várias previsões certas e erradas, nas áreas de desastres naturais (furacões, terremotos), jogos (baseball, basquete) e também discute muitas previsões econômicas (por exemplo, a crise de 2008-2009) e políticas (resultados de eleições). Há também discussões sobre como epidemias se alastram e as previsões que são feitas sobre isto.

No inglês, há 2 verbos relativos a prever futuro: "to predict" e "to forecast". Forecasting tem a ver com dados numéricos e uso de modelos matemáticos e probabilísticos. Isto funciona relativamente bem para previsão do tempo (poucos dias de previsão). Mas para certos tipos de previsões é preciso a intervenção humana para interpretar dados, tendências. Estas previsões mais subjetivas estariam associadas a "predizer" (to predict).

2) A Física do Futuro - Michio Kaku
Este autor é um dos futuristas da moda, junto com Ray Kurzweil. Kaku inclusive tem programas no canal Discovery.
No referido livro, Kaku tem prever a vida daqui a 100 anos. Mas ele não faz isto como Julio Verne e outros visionários da ficção científica (George Orwell, Isaac Asimov, H.G.Wells, Philip K. Dick, Mary Shelley de "Frankenstein", Arthur C. Clarke, Aldous Huxley e Eugene Wesley Roddenberry de "Star Trek").
Ele estudou e discutiu assuntos de diversas áreas juntamente com centenas de pesquisadores.

3) A Física do Impossível - Michio  Kaku
O que hoje é impossível, pode ser possível amanhã. Este é o lema do livro. Kaku discute 3 tipos de inovações:
a) Classe 1: coisas impossíveis hoje mas que não violam leis da Física (leis conhecidas hoje); serão realidade dentro de 1 século ou menos; exemplo: teletransporte;
b) Classe 2: estão no limite do nosso entendimento; levarão milhares de anos; ex.: viagem no tempo;
c) Classe 3: violam as leis da Física (leis conhecidas); representam mudanças de paradigmas nos conhecimentos atuais; ex.: movimento perpétuo (por causa do atrito), pré-cognição (conhecimento de eventos futuros).
Neste último caso, encontra-se o caso de veículos voadores que conseguem mudar a trajetória mesmo com alta velocidade. Com as leis atuais da Física, isto não seria possível. Mas estudiosos da área já estão descobrindo que pode haver uma subpartícula atômica que controla a gravidade. Há experimentos de levitação usando ondas. Se isto for verdade e conseguirmos entender seu funcionamento, talvez consigamos descobrir uma lei mais especializada e com isto dominar a gravidade. Talvez o fio invisível que Kepler imaginou existir "segurando" a Terra ao Sol e a Lua à Terra possa existir.


4) E alguns vídeos muito bons sobre cenários futuros.


A vida em 2020 pela Microsoft: http://www.youtube.com/watch?v=55p3vNCF4JQ

Palestra do Michio Kaku em Abu Dhabi:

Palestra do Ray Kurzweil em Abu Dhabi:



segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Slides da palestra sobre Disseminação do Conhecimento

Slides da palestra:
Disseminação do Conhecimento – Como a informação se espalha, seja boa ou ruim, seja verdade ou boato

no Seminário Regional da SBGC-RS, dia 21 de novembro de 2013.

Clique aqui.

domingo, 17 de novembro de 2013

Seminário Regional de Gestão do Conhecimento da SBGC-RS-2013

Estarei palestrando no Seminário Regional da SBGC-RS, dia 21 de novembro.
Título da palestra:
Disseminação do Conhecimento – Como a informação se espalha, seja boa ou ruim, seja verdade ou boato  

Site do evento:

Data: 
 21/11/2013
Carga horária: 
 8h
Horário: 
 8h - 17h30
Local: 
 PORTAL TECNOPUC – AV. IPIRANGA, 6681 – PRÉDIO 99 A, 2º ANDAR, SALA 217

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Há como viver sem tecnologias ?

Estou lendo o livro de Kevin Kelly (What technology wants) que nos alerta sobre o domínio da tecnologia sobre a Humanidade. Ele dá diversos exemplos de como é difícil viver sem tecnologia. Até mesmo se formos morar numa casa construída só com materiais da natureza, sem luz, sem esgoto tratado e água encanada, até mesmo ali vamos estar usando tecnologias (não de metal, mas no sentido de beneficiar ou modificar a natureza). Vamos precisar algumas ferramentas. Pode até mesmo ser um martelo rústico. Mas isto é tecnologia. Um recente post do Prof. Palazzo fala de um número mínimo de ferramentas. Talvez possamos viver com um mínimo possível.

Mas não há como obrigar todos a voltarem a estilos de vida anteriores, mais simples. Unabomber tentou isto mas de uma forma pouco inteligente: mandava cartas-bomba para pessoas incentivadoras de tecnologias e queria que seu manifesto fosse publicado pelos grande jornais. Ele matou 3 pessoas e está preso. Ele mesmo usou tecnologias:  uma velha máquina de escrever, papel, caneta e fez uso do serviço de correios, que também usa tecnologias e consome petróleo. Falando nisto, é também pouco inteligente que alguns ativistas verdes queiram acabar com a tecnologia de uma hora para outra. Não há como viver sem petróleo no momento. A comida não vai chegar até as pessoas. E se não tiver eletricidade, a comida não se conserva. Sem estas tecnologias, é fome na certa.

A Matrix do filme já está entre nós. A tecnologia já domina a nossa vida. Em tudo o que fazemos há tecnologia. E não tem como parar.

Houve uma época em que o Homem conseguiu dominar a natureza, isto foi com a criação da agricultura, há 10 ou 12 mil anos atrás. Agora, estamos dominados pela tecnologia. Kevin Kelly diz:

"About 10,000 years ago, humans passed a tipping point where our ability to modify the biosphere exceeded the planet's ability to modify us. That threshold was the beginning of the technium. We are at a second tipping point where the technium's ability to alter us exceeds our ability to alter the technium. Some people call this the Singularity."

E não há como voltar atrás. Precisamos de tecnologias. Não há como viver numa grande cidade sem tecnologia. Imagine um centro de cidade sem sinaleira; mesmo se todos andarem de bicicleta a confusão será grande. Não há como viver no mundo sem tecnologia, mesmo se todos tiverem sua casinha sem luz no campo: vamos acabar com os recursos naturais. Precisamos de tecnologias para uma vida sustentável, para reciclar material usado, para usar menos recursos naturais.

Pervasividade

 A tecnologia está em tudo. E a usamos sem mesmo notar. O simples ato de ver as horas agora é feito através de smartphones ou smartwatches. A Geração Y utiliza tecnologia em 80% de suas atividades.

O problema não é a tecnologia. O problema está em que somos 7 bilhões de pessoas no mundo. A indústria da tecnologia não é tão limpa assim. E a reciclagem de eletrônicos  não é tão eficiente quanto se imagina. Assista ao vídeo "A história das eletrônicos" de Annie Leonard. Não há como todos viverem uma vida rústica como descrito acima. Não há pedaços de terra para todos. São 149 milhões de km quadrados de terra na superfície do planeta. Isto dá 47 pessoas por km2. Pensando nos números seria possível. Mas há 2 problemas fundamentais: (1) quem vai querer viver no deserto do Saara ou nas regiões geladas; (2) a população mundial cresce 1,2% ao ano. E não haverá comida para todos sem tecnologia.

Estamos acabando com os recursos naturais. Se não for hoje, será amanhã. O desastre de Fukushima é uma bomba relógio. Além disto, estamos extinguindo espécies. A 1a delas foi o Neanderthal. Kevin Kelly tem uma conta para isto (número de espécies extintas pelo Homem a cada ano). Não é pouco. A nossa evolução é o declínio das outras espécies. Isto é seleção natural ? Ou já estamos fazendo a seleção artificial, baseada em nossos vícios ?

As grandes revoluções - agricultura e indústrias

 A grande revolução da agricultura, brilhantemente explicada no livro de Gregory Cochran e Henry Harpending (The 10,000 year explosion: how civilization accelerated human evolution. NY: Basic Books, 2009), fez nosso cérebro evoluir. Criou as civilizações. Não por desejo, mas por necessidade. Não há como um grupo grande de pessoas viverem no mesmo espaço sem dividir e especializar tarefas, negociar cooperação, equilibrar esforço e recompensas, punir os egoístas e enganadores. O estado de natureza do ser humano é a guerra, o conflito, segundo Thomas Hobbes e John Locke. Por isto precisamos também regras, leis e governos (o contrato social). Mas o governo também se corrompe ou não é competente o suficiente para organizar um grupo muito grande de pessoas.

Minha sugestão é que devemos viver em pequenos governos. Assim fica mais fácil controlarmos uns aos outros. E estabelecer vínculos fortes de confiança. Robin Dunbar, nos seus estudos, conclui que os seres humanos devem viver em grupos de no máximo 150 pessoas. Outros autores já falaram em 500 fazendo cálculos por tribos de caçadores-coletores. George Miller na metade do século passado chegou ao número mágico 7 mais ou menos 2 (fica mais fácil coordenar grupos de 5 a 9 elementos). Granovetter diz que muitos laços fracos acabam enfraquecendo os laços fortes existentes. Grupos podem existir como estados independentes e cooperar entre si, formando alianças e coalizões, em níveis crescentes (estados, países, uniões entre países). O fenômeno deve ser de expansão e contração: quando necessário agrupar, formamos grupos maiores; se não for mais necessários, voltamos a manter as diferenças em grupos menores.

A revolução da agricultura nos fez dependentes demais uns dos outros. Não conseguimos mais fazer as coisas sem precisar de outras pessoas. Will Smith no filme "Eu sou a lenda" só conseguiria viver alguns dias sozinho num mundo sem ninguém. O lado bom desta revolução é a cooperação e a reciprocidade entre os homens de boa vontade. Foi assim que surgiu o comércio (no sentido de "trade" ou troca). Por que fazer algo que não sei fazer tão bem ? Deixo para outros fazerem. Eu faço aquilo que sei fazer bem. Faço em maior quantidade e poderei trocar com outros. É assim que nos explica Matt Ridley no livro "The origins of virtue - human instincts and the evolution of cooperation'. É bom que as pessoas entendam que precisam umas das outras. Isto fomenta a colaboração e a ajuda mútua. Se alguém não colabora ou não participa, é excluído ou punido.

O lado ruim desta história é que dependemos também das tecnologias. Não há como produzir os bens necessários para muitas pessoas sem eficácia. Aí é que entra a Revolução Industrial. A princípio, benéfica. Pois gera fartura e eficiência. É possível produzir mais, para atender à demanda de todos, para não faltar. E tudo isto usando menos recursos. Mas também surgem descontroles. Não há como calcular o quanto cada um precisa, para produzir na medida certa. Ou falta, ou sobra. Aí começam as desigualdades, pois algumas coisas são mais valiosas que outras. O trabalho de alguns vale mais que o trabalho de outros. Começam os conflitos entre trabalho e lucro, tanto discutidos por Karl Marx. E a sociedade foi evoluindo de forma não consciente muito menos planejada. O grande grupo fez a Humanidade perder o controle de quanto produzir e consumir.

A tecnologia não é ruim; o problema é o descontrole

 Se tivéssemos robôs para trabalhar por nós, poderíamos viver como os gregos antigos, apenas fazendo arte, literatura e filosofia. Ou seríamos todos artistas ou esportistas. E até acredito que haverá esforço contrário por parte dos governos: porque o trabalho não dá tempo para as pessoas pensarem.

Mas por enquanto ainda precisamos de pessoas para algumas tarefas e profissões. Então a tecnologia pode ajudar nas tarefas do dia a dia ou mesmo nas especializadas. E há benefícios para o Homem. A telemedicina ajuda a tratar doentes em lugares de difícil acesso. As biotecnologias diminuirão o sofrimento de pessoas. E mesmo um computador pode fazer tarefas mecânicas ingratas para pessoas, como por exemplo cálculos difíceis com volumes grandes de dados.

O problema está no descontrole do uso. Não estamos planejando a geração de inovações. Não estamos pesquisando suas consequências. Vemos benefícios aparentes. Robôs fazendo o nosso serviço é bom. Mas estamos agora querendo computadores para pensar por nós, já que é muito trabalhoso pensar, raciocinar, decidir. Não queremos mais que o Google nos dê respostas. Queremos que ele nos diga o que perguntar.

Logo as tecnologias terão capacidade para raciocinar e decidir. E mais: para se reproduzir por conta própria. É como um DNA embutido nelas. Alguém um dia vai fazer isto. E como foi com os seres vivos, a reprodução dos genes evoluiu de forma natural e aleatória, assim será com as tecnologias. Elas estão evoluindo aleatoriamente.

Se as máquinas pensarem por nós, se perdermos este hábito, qual será o nosso futuro ? Nicholas Carr escreve sobre a superficialidade em que vivemos hoje. E ele diz que isto é uma evolução natural. Pode ser uma nova revolução, pois está transformando nosso cérebro, nossa forma de leitura, observação e raciocínio.

Uma nova revolução


A evolução da tecnologia não tem volta. Mas podemos fazer uma nova revolução. Basta usar o conhecimento focado em objetivos maiores que o lucro. Por exemplo: precisamos de calçamento nas ruas. Mas por que usar asfalto ? Precisamos combustíveis: vamos usar os mais naturais e menos poluidores. Precisamos veículos para deslocamento: vamos inventar veículos verdes. E isto já está acontecendo. Vamos ter como objetivo individual, empresarial e global criar e usar tecnologias para gerar menos agressão ao meio, seja na extração seja na construção ou no consumo. Kevin Kelly conclui que a solução não é destruir tecnologias, mas substituí-las. Precisamos inovar, usar nosso conhecimento, gerar novos conhecimentos para substituir as tecnologias "ruins" pelas "boas".

Sou consultor e professor de Gestão da Inovação e procuro incentivar inovações para o bem da humanidade. É claro que estamos também trabalhando para vender mais, lucrar mais, mas este não pode ser nosso único objetivo. O lucro tem que vir do trabalho honesto e que gere benefícios para a sociedade. Esta frase não é minha, peguei do artigo abaixo:
COLLINS, James C.; PORRAS, Jerry I. Porras. “Building your company’s vision”. Harvard Business Review, sept-oct. 1996.
É parte dos core values da Merck, empresa farmacêutica: responsabilidade social, excelência em todos os aspectos, inovação baseada na Ciência, honestidade e integridade, lucro a partir do trabalho que beneficia a Humanidade.

Himanen brilhantemente anteviu que a Era do Conhecimento e Informação seria dividida em duas fases. A 1a seria utilizar a tecnologia para eficiência no trabalho. A 2a fase teria como foco inovações em cultura/diversão (música, televisão, cinema, jogos, literatura, aprendizagem) e biotecnologia (medicina, saúde, longevidade). E Steve Jobs fez a Apple seguir neste rumo. De produção de computadores para gadgets de diversão e entretenimento.

O foco deve estar na Inovação social, comprometida com (1) bem estar das pessoas (e não só com consumo) e com (2) a sustentabilidade.

O Marketing e a Compra por impulso

 Segundo Paco Underhill (no livro "Why we buy - the science of shopping"), entre 60 e 70% das compras num supermercado não são planejadas, ou seja, são compras por impulso.

A compra sem racionalidade foi o que levantou os EUA depois do grande crash da bolsa em 1929. O desemprego chegou a quase 30%. Marketeiros e políticos fizeram campanhas para a população não economizar, gastar, porque isto daria empregos (ver "O fim dos empregos" de Jeremy Rifkin). Também surgiu a obsolescência percebida. E novas campanhas: era vergonhoso ter algo inferior que seu vizinho. Surge a importância do status. A Cadilac chega a dizer que seus carros concorrem com diamantes e casacos de pele. Esta é a origem do Rei dos Camarotes.

Querer vender mais não é pecado. É uma forma de sustentabilidade. O tamanho do lucro talvez seja (mas isto é papo para outro post). O marketing é necessário porque a competição entre as empresas é grande. Há muitas e os clientes são poucos (com pouco para gastar). Se a empresa não utilizar campanhas de marketing não vende e por consequência não sobrevive.

Além disto, o marketing pode ajudar às pessoas a comprarem melhor. Quando menos é mais. Tecnologias de apoio ao marketing podem sugerir soluções mais apropriadas às reais necessidades dos clientes. E permitir que o cliente esteja no comando, com poder de escolha e barganha.

O ecomarketing (ou green marketing) deve ser prioridade. E ajuda a vender: muitas pessoas decidem suas compras pensando em como ser mais sustentável. Por isto, há gente comprando carros elétricos, mesmo eles sendo muito mais caros.

O menos é mais.  

Num post anterior eu já comentei um pouco sobre a necessidade de refrear o consumo (clique aqui para ler o post), sobre o determinismo tecnológico. Isto servirá para salvar o planeta e para fazer pessoas mais felizes. Olhem o quadro abaixo: ele tenta explicar o que muitas pessoas já entenderam. A felicidade é igual à diferença entre nossas realizações e nossas expectativas (felicidade = realizações - expectativas). Se tivermos menos ambições, principalmente no campo material, temos mais chances de sermos felizes.



A economia mundial depende da tecnologia

 Vivemos tão dependentes da tecnologia que até mesmo a economia mundial depende dela. As bolsas reagem instantaneamente de um mercado para outro, de um lado do globo terrestre a outro. Produzir sapatos com baixo custo na China pode eliminar empregos em Sapiranga no Rio Grande do Sul e afetar um pequeno comerciante nesta cidade. Uma crise de petróleo no Oriente Médio pode afetar a produção de comida na América do Sul.

Se houver uma mega-crise econômica global, todos serão afetados. Menos aqueles que conseguirem subsistirem de seu próprio trabalho: uma casa no campo, sem eletricidade, animais domesticados e pequenas plantações de vegetais para comer. Eu toparia. Mas será que minhas filhas iam gostar depois de terem conhecido a cidade grande ?

Além disto, nadar contra a corrente é um esforço hercúleo. A ordem mundial é outra: ser dependente. Não sei se é intencional, mas tudo concorre para que as pessoas dependam de grandes empresas. Aquele que quiser morar isolado no mato não vai conseguir nem água, pois as fontes estão controladas.

O problema é que poucos estão dominando o mercado e concentrando as decisões. Veja este post de um outro autor sobre como 10 empresas controlam a maioria dos produtos consumidos. Acho que foi Peter Drucker (não consegui recuperar a fonte) que disse que em cada mercado será dominado por 2 ou 3 grandes empresas. As pequenas, ou serão adquiridas ou deverão ser fornecedores exclusivos das grandes.

Nial Ferguson (no livro "A grande degeneração") aponta a crise ocidental na democracria, no capitalismo, no respeito às leis e na sociedade civil. Estamos de novo passando por uma crise ou revolução em sociedade. A 1a foi a da agricultura e domesticação de animais, há 10 ou 12 mil anos atrás. A 2a foi a revolução industrial, que começou em meados do século XVIII e adentrou o século XX. A 3a revolução é a do Conhecimento e da Informação, bem representada pelos computadores e pela Internet, a qual está reinventando as famílias, amizades, grupos sociais e até mesmo o poder (pelas redes, como argumenta Manuel Castells).


Ferguson defende menos regulação por parte dos governos. Eu acredito que sem governo (contrato social) não há como viver em sociedade (não podemos mais voltar ao tempo das savanas e cavernas). O problema é que governos nem sempre são inteligentes, nem sempre representam a maioria e o bem comum. E por outro lado, o anarquismo originário na França e o liberalismo de Adam Smith também já provaram não dar certo. O comunismo na prática também não funciona. Ferguson talvez esteja propondo um socialismo capitalista ou um capitalismo socialista. Ou seja, uma nova ordem econômica, que possa guiar os mercados de forma sustentável, diminuir as desigualdades econômicas, manter as diferenças culturais.