terça-feira, 29 de dezembro de 2015

As origens do nosso atraso



Esta é a introdução da 2a parte do meu futuro livro sobre a História da Inovação e do Empreendedorismo no Brasil. 
Nesta parte do livro, tentarei explicar possíveis causas para o atual atraso econômico do Brasil. A maior parte dos argumentos foram tirados de outros autores e não necessariamente são conclusões minhas. Um pouco de parcialidade é claro que deve estar incluída nos textos, mas a intenção era ser o mais isento possível.

Alguns autores publicaram livros tentando explicar as razões para as desigualdades econômicas entre países. Tentei aqui nesta parte do livro fazer analogias com as causas apontadas por estes autores, para tentar entender se as mesmas causas se aplicam ao caso do Brasil.

Comecei lendo livros históricos como o de Adam Smith (A riqueza das nações) publicado em 1776, cujo principal tema é o liberalismo econômico. Uma das razões para a riqueza dos países seria a pouca intervenção do Estado nos negócios. Adam Smith acreditava que o egoísmo de cada um faria uma sociedade melhor. Ou seja, o Homem, procurando seu próprio sucesso econômico, desenvolveria empreendimentos lucrativos para si. A inovação, o empreendedorismo e as invenções viriam da necessidade da população, ao mesmo tempo, gerando benefícios para a sociedade através de bens e serviços, e também gerando retorno financeiro ao empreendedor. Veremos mais adiante que nem mesmo os países onde esta teoria possui mais defensores deixam o comércio tão livre assim.
Outros livros históricos que podem nos apontar razões para as diferenças atuais são “Capitalismo Socialismo e Democracia” e “Teoria do Desenvolvimento Econômico” de Schumpeter e “Ética protestante e capitalismo” de Max Weber (1904).
Schumpeter defendia que a inovação vinha em ondas e que uma inovação puxava outra. Este é o Processo de Destruição Criativa e é o motor do capitalismo. As inovações revolucionam a estrutura econômica a partir de dentro, destruindo o velho e criando uma nova era. As ondas de criação e desenvolvimento econômico criam novos paradigmas e novos mercados. Esta pode ser uma causa provável para a diferença entre países. Discutiremos isto numa das seções seguintes, falando de tecnologias disruptivas (países que saem na frente tendem a ter melhores resultados – líderes de mercado).
Já Max Weber discute como os princípios protestantes impulsionaram empreendedores e negócios, enquanto que a tradição católica freou o crescimento em alguns países. Mais adiante teremos um tópico só para discutir a relação entre religiões versus inovação e empreendedorismo.
O livro histórico de Jean-Jacques Rousseau (Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens) descreve as diferenças entre pessoas. Rousseau fala de causas naturais (idade, saúde, porte físico, etc.) e causas morais ou políticas. As primeiras se referem a qualidades do corpo e espírito (ou alma). Incluem capacidades físicas, que podem ser desenvolvidas ou inatas, mas que também podem não depender da vontade da própria pessoa. Mais adiante, falaremos de germes e saúde pública. As qualidades do espírito incluem as atitudes, positivas ou negativas, otimistas ou pessimistas, vontade e desejo, que podem influenciar ações e gerar melhores resultados. Trataremos um pouco disto quando falarmos das origens do Brasil, principalmente comparando nossos conquistadores com colonizadores que fizeram crescer os EUA e outros países. Já as causas morais e políticas de Rousseau incluem dominações, por força ou esperteza, que também trataremos mais adiante em diversos tópicos.
Rousseau também supõe que as desigualdades entre pessoas podem surgir de diferenças em vocações e divisão do trabalho. A divisão do trabalho começou nos grupos primitivos, onde homens caçavam e mulheres coletavam. Mas foi com a invenção da agricultura que as especializações de funções surgiram, porque nem todos precisavam trabalhar para gerar alimentos. Ali surgem as primeiras profissões do mundo e talvez influenciadas pelas diferenças que Rousseau aponta como naturais (ex. alguns tinham mais habilidades para construir diques enquanto outros eram melhores para ensinar) ou políticas (ex. donos de propriedades gerenciavam trabalhadores braçais, ricos entravam com dinheiro para guerra e pobres participavam como soldados).

Ao final do século XX, David Landes publicou um livro sobre “A riqueza e pobreza das nações (Landes, 1998). Alguns dos pontos apontados por este autor condizem com a nossa história e serão explicados adiante, incluindo a questão do clima quente, da geografia alongada de nosso território e outras causas.
Jared Diamond escreveu 2 livros que tratam de assuntos pertinentes ao nosso questionamento. Um deles (Germes, armas e aço) resume em 3 as causas para as diferenças econômicas entre países. Os germes se referem a diversas situações onde exploradores ou conquistadores chegaram em terras novas e passaram seus germes para os nativos. Na maioria dos casos, os tais exploradores eram europeus. Como as fronteiras da Europa estavam abertas e os caminhos eram curtos, os povos se miscigenaram ou se cruzaram formando estruturas genéticas mais resistentes a doenças. Já os nativos que só conheciam as suas próprias terras não tinham tanta resistência a novos germes. As armas se referem ao poderio militar e refletem a ideia óbvia de que povos com armas melhores conquistam os demais. Na parte anterior deste livro, já descrevemos como a Inglaterra exerceu forte pressão sobre o Brasil durante anos, usando como influência seu poderio militar. O aço é uma questão mais recente e remete à Revolução Industrial. Países onde a revolução aconteceu primeiro estão na frente hoje. O aço se refere tanto a ter conhecimento para criar máquinas quanto ter fontes de energia como carvão e petróleo para sustentar as máquinas. A posse de máquinas e indústrias já não é mais fator de vantagem, como será discutido logo em seguida, uma vez que já estamos na era do Conhecimento (a 3ª Onda).

O outro livro de Jared Diamond é “Colapso”, que tenta explicar porque grandes e poderosas civilizações fracassaram, entre elas o Império Romano. Algumas destas questões dizem respeito ao nosso atraso e serão tratadas nesta segunda parte do livro.

Nesta mesma linha de pensamento, mas pensando pelo lado contrário, uma edição especial da Revista National Geographic de 2014 procurou apresentar por que os grandes impérios prosperaram. O estudo aponta similaridades entre os povos que conquistaram grandes territórios, a saber:
a) poderio bélico: antigamente o território era ampliado pela guerra e isto assegurava matérias primas e riquezas naturais (ouro, açúcar, especiarias, petróleo, energia). Hoje em dia, o domínio técnico e comercial é o grande diferencial, contrapondo-se à extração. Entretanto, países que possuem petróleo ainda estão entre os mais ricos. Por exemplo, Venezuela e vários países africanos possuem altos índices de exportação em regiões muito pobres. Além disto, ainda há guerras por territórios onde há petróleo, como por exemplo as Ilhas Malvinas disputadas por Argentina e Inglaterra e a região da Crimeia, disputada por Rússia e Ucrânia).

b) organizações administrativas fortes: antigamente serviam para a cobrança de impostos. Hoje são responsáveis pelas infraestrutura de transportes e educação. Uma das razões para a estabilidade chinesa é a presença de bons funcionários públicos.

c) padronizações: nos pesos e medidas, na língua e religião. Foi assim que a China se formou. Hoje ela enfrenta dificuldades justamente por suas enormes diferenças internas. E é assim também que países se dividem (União Soviética, Iugoslávia, Tchecoslováquia).

d) absorver povos e aproveitar sua cultura: este é um processo enriquecedor e destrutivo. Constrói um novo povo mas pode matar os antigos. Se os conquistadores se misturarem com os locais, poderão ser melhor recebidos. Foi uma das razões para o sucesso do império romano no fim da antiguidade e na Idade Média: conquistavam e firmavam cidades, onde os conquistados poderiam fazer parte do império, inclusive através de casamentos entre povos. Foi assim também na conquista da América, e lembramos em especial o “cunhadismo” no Brasil, já explicado antes.

e) achavam que estavam lidando com povos que não estavam na mesma condição (que eram inferiores).

Sobre a questão apontada no item (d) acima, Moog (2011, original de 1957) fez uma comparação entre a colonização dos EUA e do Brasil, tentando explicar as diferenças históricas. E isto, como será discutido adiante, explica muitas diferenças econômicas e sociais atuais.
Recentemente, Thomas Piketty publicou um dos livros mais comentados nos últimos tempos: O Capital no século XXI. O livro é de tamanha importância que está sendo comparado a “O Capital” de Karl Marx. Ele analisa séries históricas para demonstrar o nível de desigualdade nos principais países. Ele fala da desigualdade de renda e de riqueza e suas consequências. Mas também explora as possíveis causas para a desigualdade entre grupos sociais, incluindo as econômicas, sociais, morais e políticas. Muitas destas questões serão abordadas neste livro.
Há um grande debate sobre Capitalismo X Socialismo, qual o melhor modelo econômico. Francis Fukuyama (“The End of History and the Last Man”) acredita que o capitalismo venceu (o que ele chama de democracia liberal), que não há outro modelo econômico melhor. Seus argumentos são baseados na decadência ou fim dos regimes comunistas (União Soviética, aberturas recentes em Cuba e China, e deterioração da liberdade na Coreia do Norte).
Por outro lado, alguns autores acreditam que nem Governo nem o setor privado (empresas capitalistas) podem dominar. Este é o fundamento do recente livro de Henry Mintzberg “Renovação Radical”. Ele acredita que um país precisa de um terceiro setor forte (a sociedade civil). Este pensamento é corroborado por Niall Ferguson em “A grande degeneração” e por Acemoglu e Robinson em “Why nations fail (por que as nações fracassam)”, os quais exaltam a importância das instituições para um país equilibrado e próspero (e neste grupo, incluem-se também instituições governamentais e os 3 poderes equilibrados como pensou originalmente Montesquieu).
Sobre a Economia do Brasil, um excelente relato histórico é feito por Bresser Pereira (Desenvolvimento e crise no Brasil: história, economia e política de Getúlio Vargas a Lula), explicando razões para o desenvolvimento do Brasil ao longo de nossa história recente. Há também o livro de Lacerda e outros (2010), contando em detalhes o desenvolvimento da economia brasileira. Vale também citar o livro de Faoro (Os Donos do Poder), contando sobre a questão jurídica na História do Brasil, mas dando também muitos detalhes da vida econômica e da sociedade durante Brasil Colônia e Império.
Sobre o Brasil também, há o livro de Neill Lochery contando detalhes dos acontecimentos que precederam a entrada do Brasil na 2ª Guerra Mundial e também dos eventos durante a Guerra. Seu livro expõe algumas consequências disto, as quais serão analisadas aqui neste livro.
Sobre a História do Brasil em geral, há os excelentes livros de Afrânio Peixoto e Eduardo Bueno, mas deve-se salientar o tratado escrito por Darcy Ribeiro sobre a formação do povo brasileiro.
Sobre a agricultura e sua influência na Economia, muitas informações foram tiradas do livro de Michael Pollan (O dilema do onívoro). Mas o livro também conta como os alimentos chegam a nossa mesa e discute questões polêmicas como transgênicos e política agrícolas. Além disto, há o ótimo livro de Albuquerque (1987) sobre a Economia Agrícola no Brasil.
Muitas informações sobre a Europa e o Mundo na Idade Média foram tiradas do livro organizado por Umberto Eco.
Sobre a Revolução Industrial, a nova era do Conhecimento, a divisão do trabalho entre humanos e máquinas e sobre o emprego de tecnologias em geral, foram consultados os livros “A 3a Onda” de Alvin Toffler (2007), “Race against the machine” de Brynjofsson e McAfee (2011), “The New Division of Labor - How Computers are Creating the Next Job Market” de Frank Levy e Richard J. Murnane (2012) e também três livros de Jeremy Rikfin: “A Terceira Revolução Industrial”, “O Fim dos Empregos” e “"The Zero Marginal Cost Society: The Internet of Things, the Collaborative Commons, and the Eclipse of Capitalism".
Outros livros que foram consultados incluem: “Os Fundamentos da Liberdade” de Friedrich A. Hayek (1983), “A Grande Transformação” de Karl Polanyi (2011, 2a edição), “The Great Stagnation” de Tyler Cowen (2011), “New Rules for the New Economy” de Kevin Kelly (1998), “Crash: uma breve história da economia” de Versignassi (2011), “Uma breve história das crises econômicas” de Waldon Alves (sem data),
Alguns livros consultados falam da História da Humanidade em geral, entre eles os 2 livros de Van Loon (“Ancient man - the beginning of civilizations”, 1922; e “The story of mankind, 1921) e “Uma breve história do mundo” de Geoffrey Blainey (2000).

Nas seções seguintes, iremos detalhar cada possível causa para nosso atraso em relação a países mais desenvolvidos ou ricos.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Colonização X exploração – os nossos pioneiros

Este é um capítulo do meu futuro livro que se chamará "As Origens do Nosso Atraso - A História da Inovação e do Empreendedorismo no Brasil e comparações com outros países".




Colonização X exploração – os nossos pioneiros

Como já discutimos antes, o império romano conquistava os novos territórios para não impunha sua cultura (somente algumas leis e regras tributárias); assimilavam a cultura dos povos conquistados e deixavam bem-feitorias por onde passavam (estradas, aquedutos, monumentos, banhos públicos, técnicas de construção, etc.).

Conforme Souza (2012), a razão do predomínio comercial da Alemanha na Europa medieval consistia “no fato de não procurar dominar politicamente os países bálticos, mas favorecê- los, através do alargamento do comércio e incremento da economia dessa imensa região. Para tal, além de compradores em larga escala dos produtos nacionais, promoviam a venda dos mesmos nos mercados internacionais.”

Por outro lado, em muitos outros casos, os colonizadores destruíam os territórios, como invasores bárbaros e vândalos na Europa Medieval, levando tudo o que podiam e sem deixar nem mesmo algum traço cultural que pudesse ser aproveitado.

Como já discutimos antes, alguns colonizadores antigos, como a Inglaterra, apesar de deixar obras de infraestrutura, também regulavam a economia conquistada, limitando o crescimento dos colonizados. Isto foi uma das causas que impediu os países do hemisfério sul de se desenvolverem.
Segundo Frieden, em geral, os colonos cultivavam produtos que os nativos não queriam produzir. Mas se opunham à inclusão dos habitantes locais no sistema colonial, impedindo uma integração econômica internacional ampla e o desenvolvimento econômico em geral da colônia. Como já discutido antes, mesmo o governo colonizador restringia as atividades econômicas das colônias; dirigiam o mercado local forçando as colônias a produzirem produtos escolhidos e determinando as relações de comércio exterior das colônias. A estratégia era permitir os pioneiros a empreenderem mas sempre sob controle centralizado, reforçando a dependência da colônia. Em parte, isto pode ter sido causa para fracassos de colonização na América Central e do Sul, África, Ásia e Oceania.

Mas há também casos de sucesso, como nos EUA e na Austrália. Nestes dois países, os colonizadores foram pioneiros e fundaram um novo país. No Brasil, pelo contrário, fomos colonizados por exploradores, que extraíram o que podiam e só formaram uma extensão de Portugal. Até mesmo povos invasores, como os holandeses, deixaram mais bem-feitorias e desenvolvimento que os portugueses. Nossos pioneiros queriam enriquecer depressa, para voltar à Europa, sem cultivar as lavouras para perpetuar a exploração do solo, sem deixar infraestrutura para os que ficavam (Faoro).

Segundo Frieden, as colonizações dos europeus foram caracterizadas por migrações em massa para áreas pouco habitadas, como os pampas argentinos e as pradarias canadenses, onde normalmente os
imigrantes e seus descendentes eram praticamente toda a população local. Os colonizadores atuavam onde não havia ninguém. Então não escravizavam nem roubavam; ali criavam suas cidades e seus próprios recursos.

Segundo Landes, muitos colonizadores, como o caso dos americanos, inventaram o que precisavam, pois não podiam depender do governo colonizador. Esta pode ser a origem do espírito empreendedor na América do Norte, ao contrário da falta em outras colônias.

Esta busca por empreendedorismo e liberdade pode ter sido decisivo na independência de algumas colônias. Landes afirma que a força das sociedades civis pode ter acelerado o processo de independência no Norte (onde a separação da colônia aconteceu primeiro), enquanto que no Sul esta força faltava devido à acomodação civil, mesmo onde não havia ditadores. E Landes complementa dizendo que, a principal instituição civil, a Igreja Católica, estava interessada em manter seu staus quo, proprietária de terras e riquezas. No caso da América Latina, Landes acredita que a independência veio menos por questões ideológicos ou políticas e mais pela fraqueza e insucesso econômico de Espanha e Portugal.

- O Caso do Brasil


Vamos começar apresentando a comparação feita por Moog (2011) entre os colonizadores norte-americanos e os portugueses no Brasil. Os primeiros eram realmente colonizadores, pois chegaram à América para ficar e criar um novo país. Vieram em busca de terras, já que na Europa não havia lugar para eles plantarem. Não pensavam em regressar e o objetivo era criar vilas e cidades. Já os primeiros portugueses que aqui chegaram, eram conquistadores e vieram por cobiça (verdadeiros saqueadores). O objetivo era extrair o que pudessem e levar para Portugal e Europa (“conquista para despovoar”, como define Moog). Os poucos que ficavam, era porque não havia outra opção. Eduardo Bueno (2006) retrata bem os nossos pioneiros como náufragos, traficantes e degredados. Ficavam porque conseguiam algum tipo de privilégio junto aos indígenas. Darcy Ribeiro (1995) chama de “cunhadismo”, o fenômeno de estes pioneiros casarem com índias, passarem a fazer parte da tribo, inclusive ajudando a comandar, e levando para dentro da tribo os seus familiares.

Outra diferença entre a colonização na América do Norte e na do Sul é que por aqui havia muito mais miscigenação. Lá, os ingleses não casavam com índios. Segundo Karnal et al. (2007), o “universo inglês, mesmo quando eventualmente favorável à figura do índio, jamais promoveu um projeto de integração. O índio permaneceu um estranho – aliado ou inimigo –, mas sempre estranho”. A estratégia de colonização norte-americana era que viessem famílias (mulheres e filhos), para que os homens quisessem estabelecer raízes e não mais voltar, como conta Michael Rank (2015) no episódio do povo Roanoke.

Já os portugueses que aqui chegaram estavam acostumados com cruzamentos, até porque foram invadidos e ocupados por mouros durante 800 anos (Moog, 2011). Landes acredita que um certo racismo inglês (por causa do protestantismo) evitou a miscigenação racional, enquanto que as colônias espanholas e portuguesas (católicas) tinham uma mente mais aberta ao cruzamento inter-racial. Segundo Le Roux (2009), a miscigenação pode ser a origem da união na América Latina. Entretanto, nos EUA, a homogeneidade do povo manteve a união com a qual já chegaram.

Outra questão é que os colonizadores ingleses na América, assim como na Austrália, encaravam o trabalho como algo natural, inclusive assumindo a mulher como companheira de trabalho. Por isto, criam diversas inovações com o pouco que tinham na nova terra. Já os nossos pioneiros viam o trabalho como punição e consideravam que trabalhar era para escravos. Vinham sem as esposas para extravasar sua liberdade e hedonismo (Moog, 2011). Segundo Faoro: “o inglês trouxe a sua mulher para a colônia, ao contrário do português, que a esqueceu, preocupado com a missão de guerra e de conquista, adequada ao homem solteiro. Mulher sem o cuidado do ócio, para a qual o escravo supria os trabalhos domésticos, devotada ao cultivo, à colheita, às tarefas industriais domésticas, ao trato com empregados”.

Mais tarde, os imigrantes não descendentes de portugueses que chegaram no Brasil depois vieram com o mesmo espírito que os colonizadores norte-americanos, como discutiremos no próximo capítulo.

Tabela 10: Resumo comparativo entre Colonizador Norte-Americano X Brasileiro (baseado em Moog, 2011)
Colonizador americano
Colonizador do Brasil
Colonizador
Homem da Reforma
Vida é dever
Mulher é companheira de trabalho
Não se miscigena com índios (Ingleses) Alguns Franceses no Canadá aceitam casar com índios
Pouca miscigenação de brancos com escuros na Inglaterra
Vieram em busca de terras para viver
Não pensavam em regressar
Conquista terra para criar vilas e cidades
Trabalho é uma dádiva de Deus
Vêm autodeterminados a formar grupo civil e político (antevisão da independência)
Povo mais alfabetizado
Americano se diz deste o início “americano” (por escolha e com orgulho)
Trabalha, inventa, se adapta
Mantém o passado que deu certo e destrói o que não deu para fazer melhor
Conquistador
Homem da Renascença, anterior à Reforma
Vida é direito
Mulher é um objeto de presa
Casa e tem filhos com índios e negros
Portugueses  acostumados com miscigenação pois foram invadidos e ocupados pelo mouros durante 800 anos

Vieram por cobiça (terra e riquezas)
Pensavam em voltar
Conquista terra para despovoar
Trabalho é punição
Vêm sem pretensões públicas ou políticas
(dependência da colônia)

Primeiros que nasceram aqui não queriam parecer brasileiros (os mazombos).
Viajavam a Portugal para apagar origem
Brasil era para extravasar sua liberdade e hedonismo



O colonizador inglês na América se diz deste o início “americano” (por escolha e com orgulho). Já os primeiros que nasceram aqui no Brasil (chamados de “mazombos”) não queriam parecer brasileiros (até porque este termo estava associado ao trabalho com pau-brasil). Viajavam a Portugal para apagar a origem, careciam de iniciativa ou inventividade, tinham descaso por tudo que não fosse fortuna rápida, tinham falta de ideal coletivo e falta de crença na possibilidade de aperfeiçoamento moral do homem, apesar de idolatrarem os franceses (talvez somente a parte materialista). Segundo Moog, os mazombos eram tristes, imorais, indiferentes, derrotados e com má vontade. Baseavam-se no privilégio, contra a igualdade social ou política, para conseguirem os benefícios. Queria ganhar no jogo, na aventura, sem trabalhar (comércio era para portugueses e trabalho para escravos). Daí talvez seja a origem do nosso famoso “jeitinho brasileiro”. Os próprios portugueses consideravam os mazombos inferiores.

Talvez nossos heróis folclóricos Caramuru e Macunaíma sejam os melhores representantes do Brasil desta época: heróis malandros e preguiçosos, ganhavam sem trabalhar, só enganando os outros.

Conforme Faoro, “o inglês fundou na América uma pátria; o Português, um prolongamento do Estado”. Os colonos ingleses formaram sua própria organização política e administrativa, longe do paradigma feudal de onde vieram. “Não os contaminou a presença vigilante, desconfiada e escrutadora, do funcionário reinol: por sua conta, guardadas as tradições de selfgovernment e de respeito às liberdades públicas, construíram as próprias instituições” (Faoro). Os colonos ingleses estavam acostumados ao duro trabalho agrícola (tanto homens quanto mulheres), sem o desdém aristocrático; agarraram-se à liberdade e ao empreendedorismo sem o ”paternal guarda-chuva real” (expressão de Faoro).

Segundo Karnal et al. (2007), os primeiros colonos norte-americanos também tentaram algo como nossas capitanias hereditárias. Assim como o Brasil, os ataques indígenas aos colonizadores, a fome e as doenças minaram a motivação inicial. A segunda tentativa inglesa de colonização da América do Norte foi licenciando companhias particulares para a colonização. Talvez esta tenha sido a primeira privatização na América. Nossas capitanias hereditárias, ao contrário, estavam sob responsabilidade de nobres, pouco acostumados ao trabalho, à administração e ao empreendedorismo. Nos EUA, eram empresas capitalistas. Como define Karnal et al., uma colonização de empresa e não de Estado.  É claro que no primeiro momento havia o monopólio de certas atividades em favor destas companhias. Entretanto, a iniciativa não deu certo, tendo sido revogadas as licenças destas companhias principalmente pelas altas dívidas.

A terceira tentativa era exportar colonos da Inglaterra para o novo mundo, uma maneira de a colônia se desfazer de quem não gostava e povoar a nova terra para manter a conquista. Segundo Karnal et al. (2007), é incorreto afirmar que para a América do Norte vieram somente colonos seletos, altamente instruídos e com capital abundante. A viagem não era fácil, sendo mesmo comparada ao tráfico de escravos. Muitos não tinham como pagar a passagem e aceitavam a servidão temporária, até zerar o débito com quem lhes tivesse emprestado dinheiro para a viagem. Lá no Norte também houve muitas rebeliões, de colonos reivindicando melhores condições de vida.

Parte dos imigrantes ingleses na América veio pela liberdade religiosa aqui disponível. Segundo Karnal et al. (2007), houve muita perseguição religiosa na Inglaterra nos séculos XVI e XVII. Alguns mesmo acreditavam que a América seria uma nova Canaã, para um grupo escolhido por Deus para criar uma sociedade dos eleitos. Outros vieram procurando um lugar onde as leis fossem mais justas e iguais. Segundo Karnal et al., a “ideia de povo eleito e especial diante do mundo é uma das marcas mais fortes na constituição da cultura dos Estados Unidos.”

Talvez uma das causas para nossa colonização não ter dado certo é porque só havia extrativismo. Os Bandeirantes entravam e extraiam, mas não ficavam. Os pioneiros norte-americanos colonizaram a terra, criando infraestrutura e assumindo o país como sua nova nação. Esta é a diferença da ocupação do oeste do Brasil em relação ao oeste americano e Austrália. O oeste brasileiro só foi realmente povoado com a criação de Brasília.

O resumo de Moog nesta comparação é este: a colonização nos EUA tem sentido espiritual, orgânico e construtivo; no Brasil, o sentido é predatório, extrativista e secundariamente religioso. É por isto que as casas dos americanos possuem porões com oficinas e laboratórios, enquanto a casa grande no Brasil estava sempre lotada de escravos.

Laurentino Gomes (2014) coloca mais lenha na fogueira: “A riqueza de Portugal era resultado do dinheiro fácil, como os ganhos de herança, cassinos e loterias, que não exigem sacrifício, esforço de criatividade e inovação, nem investimento de longo prazo em educação e criação de leis e instituições duradouras. Numa época em que a Revolução Industrial britânica começava a redefinir as relações econômicas e o futuro das nações, os portugueses ainda estavam presos ao sistema extrativista e mercantilista, sobre o qual tinham construído sua efêmera prosperidade três séculos antes. Baseava-se na exploração pura e simples das colônias, sem que nelas fosse necessário investir em infraestrutura, educação ou melhoria de qualquer espécie. ‘Era uma riqueza que não gerava riqueza’, escreveu a historiadora Lilia Schwarcz.

A colonização foi obra do Estado, sem participação de empreendedores. Os poucos comerciantes do início da colonização, como Fernando de Noronha (conforme Eduardo Bueno), tinham privilégios acima dos demais. E evitavam à coroa ter que dispender esforços (bastava pagar as comissões). Conforme Faoro, mesmo a produção de açúcar não era tão importante quanto o pau-brasil, pois aquela exigia mais esforço que esta. Também não houve feudalismo (nem mesmo com as capitanias), porque não havia sobreposição de camadas sociais e tudo pertencia ao governo, sem liberdades aos pioneiros que queriam livremente empreender.

Faoro ainda complementa dizendo que, mesmo com a passagem da economia de escambo para a de produção, há escassez de gêneros de consumo porque os nossos pioneiros queriam enriquecer depressa, para voltar ao reino, sem cultivar as lavouras para perpetuar a exploração do solo. Fábricas, oficinas, exploração agrícola ou mineira, as principais atividades econômicas aqui estão nas mãos de empresas estrangeiras. Estes sim enriquecem com o empreendedorismo. Nossos pioneiros preferem formar um reino de aristocratas ociosos do que ser uma democracia próspera de trabalhadores.



Uma dúvida que se coloca aqui é como esta raiz tão distante na nossa ascendência ainda hoje se faz presente no nosso Brasil. A princípio, não deveria haver determinismo, pois esta cultura, como já diz a palavra, foi aprendida e não está no nosso DNA (como discute David Shenk). Por ser cultura, aprendizado, podemos modificar tal comportamento e atitudes. Ainda mais que tivemos inúmeros imigrantes, muito miscigenação de raças e culturas, e também muito tempo para aprender com outras culturas novas formas de agir e assim modificar nosso destino.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

O segredo do sucesso do Vale do Silício



Resumo do Livro:
SCARUFFI, Piero. A History of Silicon Valley - Almost a 3rd Edition (ebook).

Este livro conta a história das tecnologias da informação desde 1900, com muitos detalhes, incluindo nomes de pessoas que fizeram acontecer, lugares, datas, etc.

Fala de todas as tecnologias, incluindo a história do computador, computador pessoal, PC, mouse, vídeo games, software, automação de escritórios, redes de computadores, Internet, etc. Conta a história das empresas, como nasceram, cresceram e até mesmo daquelas que já morreram. O foco é nas empresas do Vale do Silício e como esta região se desenvolveu de 1900 até os dias atuais.
Mas como mesmo o autor enfatiza, é preciso conhecer a história como um todo. Por isto, ele descreve a história das tecnologias no mundo todo e como o Vale se inseriu neste contexto.

Mas o principal no livro é destacar os motivos que fizeram o sucesso do Vale do Silício.

Aí vai um resumo dos fatores impulsionadores.

- Os Hobbistas
Esta é a ideia de prosumidor, que consome e produz algo, já foi descrita em outros livros (“A 3ª Onda”, de Alvin Toffler e “The Zero Marginal Cost Society” de Jeremy Rifkin).
No Vale, eram pessoas que tinham por hobby trabalhar com eletrônica e tecnologias (depois passou a software). Usando kits amadores, construíam novos produtos. O mais conhecido deles talvez tenha sido Steve Wozniak que criou junto com Steve Jobs o primeiro computador pessoal.
Eles trocavam conhecimentos em Comunidades e davam suporte. Produziam e consumiam computadores, modems, software, etc. E davam suporte aos novatos, como uma empresa hoje em dia dá suporte pago. Aqui no Brasil talvez o caso mais conhecido seja das BBS que deram origem a provedores de Internet.
No início, lá no Vale, era só uma paixão individual, até que marketeiros ou empresas ou universidades viam potencial para desenvolvimento de produtos para o mercado.
Por isto, muitas empresas começaram em garagens (como Apple e Microsoft).
Scaruffi conta que os jovens nerds do Vale eram muito individualistas e não chegavam a ter grandes acontecimentos sociais. Ficavam muito em casa e não gostavam de trabalhar em empresas com hierarquias e regras. A maioria nem frequentava universidades. Adeptos do “faça você mesmo”, estavam focados em usar e criar tecnologias.
Ali nasceram lojas especializadas para hobbistas e muitas deles cresceram sendo pioneiras na comercialização das inovações, que inicialmente eram para outros hobbistas mas que logo chegaram à vista de consumidores comuns. Este foi o caso do computador Apple II.
Os hobbistas, seus clubes e comunidades e as lojas especializadas afrontaram as grandes empresas.


- Pequenas empresas e spin-offs
Scaruffi fala sobre várias empresas pequenas com menos de 10 funcionários criando inovações. Algumas, como dito antes, saíram de garagens. Outras foram criadas a partir de projetos em Universidades, as chamadas spin-offs (falarei das Universidades mais adiante).
Muitas delas não sobreviveram mas deram origem a novas empresas, ou então, seus engenheiros e empreendedores acabaram em outras empresas do Vale.
Scaruffi defende que, como células de um organismo vivo, o importante não era manter as células vivas mas sim o organismo. E para tanto, células velhas deviam ser eliminadas naturalmente.

- Rotatividade de pessoal
Este processo dinâmico de geração e morte de empresas, também gerava muito turnover nas empresas. Até porque elas estavam próximas umas das outras e certamente era relativamente fácil sair de uma empresa e ir para outra com um projeto ou salário melhor. As pessoas preferiam a mobilidade horizontal (entre empresas) mais que a vertical (subir na hierarquia dentro da mesma empresa).
A rotatividade de pessoal técnico foi essencial para o Vale porque gerou troca e aperfeiçoamento de conhecimentos.
No Vale também, teve início a cultura de tratar os empregados como família e fazê-los sócios, dando ações da empresa (stock options), além de permitir que os donos da empresa fossem tratados pelo primeiro nome. Também não havia regras para horas de trabalho nem vestimentas (dress code). As empresas se esforçavam em transformar seu ambiente num campus colegial.
As empresas do Vale ficaram conhecidas (e são até hoje) por contratarem os melhores dos melhores.


- Competição e cooperação entre empresas
As empresas “conversavam” entre si, trocando conhecimento mas também utilizando produtos umas das outras. Havia uma simbiose, que ora se manifestava como uma cooperação ora como uma competição, onde uma tentava copiar e fazer melhor algo que outra havia inventado.
As empresas guardavam seus segredos industriais, mas olhavam para o que outras estavam fazendo, e não tinham medo de abrir seus projetos para trabalhar em conjunto com outras empresas. Foi assim que nasceu o DOS da Microsoft, a interface gráfica do Macintosh. Por outro lado, a Netscape morreu pela competição desleal da MS.
A concentração física das empresas também funcionava como vitrine para olhares de investidores e facilitava atrair mão de obra altamente qualificada.

- Imigrantes
Scaruffi cita o nome de vários imigrantes de várias nacionalidades (russos, poloneses, judeus, chineses, europeus, etc) que tiveram participações importantes nas inovações geradas no Vale. Sem eles, até mesmo para a mão de obra mais básica, o Vale não teria sobrevivido. Mas muitos deles foram os que tiveram as ideias principais.

- Contracultura e informalidade geram criatividade
A Califórnia era conhecida como o centro da contracultura. Se no lado leste, todos eram formais e bem comportados, no lado oeste até mesmo empreendedores e bilionários usam jeans. Havia o espírito de rebeldia, que se manifestava na música, nas artes e no início do ativismo gay.
Scaruffi acredita que este tipo de ambiente, longe das regras, deve ter favorecido a criatividade também na área técnica.
Esta contracultura era caracterizada pelo sentimento de ir contra tudo e todos e calcada fortemente na ideia de que era possível mudar o mundo.
Só para lembrar, Steve Jobs foi um hippie antes de fundar a Apple e disse que queria deixar “um dente no Universo”.


- Universidades
Elas têm um papel fundamental no Vale. Dali partiram as ideias iniciais das grandes inovações. Muito investimento recebido foi utilizado para criar laboratórios de inovações nas Universidades. Professores eram contratados e projetos financiados. Alunos se engajavam curiosos no início, mas depois tornaram-se engenheiros de computação, eletrônica ou de software. E este era um status maior que executivos de marketing e só ficava atrás dos empreendedores.
Nas Universidades do Vale, o espírito é bem diferente do quase feudalismo nas universidades da Europa, onde o Professor só fala com os alunos com reuniões marcadas.
Durante a Grande Depressão que iniciou em 1929, muitos professores estimularam seus alunos a criarem seus próprios negócios. E este sentimento continua até hoje.


- Capital de risco: anjos retribuindo
Sem dúvida, muito do dinheiro que chegou no Vale foi pelas mãos de investidores anjos. Ou de empresas de Venture Capital criadas por milionários. Muitos destes se fizeram no Vale mesmo. E daí assumiram a condição de serem responsáveis por retribuir investindo em novos empreendedores, como os mecenas nas artes. Uma espécie de gratidão pelo Vale ter lhes feito milionários.
A concentração de empresas e criatividade facilitava a atração de investidores anjos. E muitos bilionários chegaram mesmo a fazer filantropia para projetos em universidades e empresas. “Seja criativa enquanto você não é rico, e suporte a criatividade quando você for rico”.

- Capital de risco: assumir o risco do negócio
Um dos destaques do referido livro é que os empreendedores do Vale assumiam a condição de risco dos negócios. Era sabido e parte do investimento. Scaruffi chega a dizer que o pessoal do Vale transformou a capacidade de assumir riscos numa ciência.


- Estratégia
O Vale usava como estratégia identificar áreas promissores ou tecnologias disruptivas.
Aí empresas, universidades, governo e investidores focavam na tentativa de gerar inovações nestas novas áreas.
As inovações eram pensadas para nichos de mercado ou para criar novos mercados (tecnologias disruptivas). E o Vale conseguia prever a mudança de tecnologias.
Foi assim que muitas empresas de hardware se direcionaram para software.


- Papel do Governo Americano
Ao contrário do que defendia Adam Smith e corroborando a teoria de Keynes, o Governo foi muito importante para o desenvolvimento do Vale do Silício.
Primeiro porque o Governo era o principal cliente durante as duas guerras mundiais e foi também cliente durante a guerra fria. Os departamentos de defesa, espacial, de inteligência, etc, sabiam que só poderiam estar à frente dos inimigos ou competidores se tivessem novas e melhores tecnologias. A guerra tornou grandes as pequenas empresas.
Segundo o Governo interviu através de políticas, tais como dando ou evitando monopólios. A AT&T ganhou monopólio e com isto conseguiu desenvolver tecnologias de comunicação que foram importantes para a guerra e acabaram chegando ao mercado. Por outro lado, o PC só se popularizou porque a IBM foi obrigada pelo Governo a abrir a arquitetura do PC, o que permitiu que várias empresas (inclusive pequenas) criassem peças e software para microcomputadores.
O Governo também estimulou a cooperação entre universidades e empresas, desempenhando um papel importante ao juntar ambos lados em projetos estratégicos.
As inovações geradas para a área militar acabavam voltando para as empresas, gerando novos produtos para o mercado consumidor (por exemplo, o GPS).
O Governo também incentivou investimentos baixando o imposto sobre o capital de risco, o que fez com que muitas pessoas e empresas investissem nas startups do Vale.
E até mesmo chegou a arcar com uma parte dos investimentos. Durante a Guerra Fria, criou uma lei em 1958 pela qual o governo colocava 3 dólares para cada dólar investido numa startup por uma instituição financeira.


Scaruffi resume o espírito do Vale numa anedota: ele conta que quando trabalhava na Europa, quando alguém tinha uma ideia, o gerente perguntava: “Alguém já fez isto?”.
Se a resposta fosse sim, o gerente dizia “então estamos muito atrasados” e não valia a pena investir na ideia. Se a resposta fosse não, o gerente dizia “então não há necessidade para isto”.