segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Quebra de paradigmas

Vejo muita discussão sobre qual seria a verdade verdadeira em muitas áreas. Começa com a discussão entre Criacionismo vs. Big Bang e Evolução. Segue com a disputa entre religiões e provas da existência de Deus. Até chegar às teorias de Física, Química, Biologia, etc.

Pois bem, o mais correto, na minha opinião, é dizer “no momento, a teoria mais aceita é ...”.  Isto porque não há provas de uma verdade ou outra. Há indícios e há opiniões (maioria x minoria).

Já vimos várias teorias sendo quebradas: Terra plana, Sol x Terra, átomo indivisível, universo x multiverso, matéria x antimatéria, leis de Newton X Einstein X teoria quântica, etc. Até Stephen Hawking está revendo seus conceitos sobre buracos negros. Recentemente, o Museu de História Natural de Londres retirou a estátua de Lamarck e colocou a de Darwin. Mas já existem teorias surgindo dizendo que talvez algumas ideias de Lamarck estejam certas (características adquiridas passando para a prole). Por exemplo, talvez informações passem pelo DNA e aí explicariam a sensação de “déjà-vu”.  

Thomas Kuhn, no livro “A estrutura das revoluções científicas”, estuda o surgimento de novos paradigmas. Quando observações não se encaixam na teoria antiga ou vigente, é necessário adaptar a teoria ou criar uma nova. É como funciona a tese x antítese, dando origem a uma nova teoria para acomodar ambos os lados (a dialética também faz isto).

Karl Popper propôs o teste de falseabilidade para provar uma teoria. O teste consiste em procurar o que não se encaixa na teoria. Se nada for encontrado, então a teoria está correta. E se a gente não procurar corretamente ? Se os instrumentos não forem suficientes ? Se a amostra ou o momento da observação não estiverem adequados ? Estaremos validando uma teoria incorreta.

Taleb, no livro “A lógica do Cisne Negro” lembra que o Peru forma um modelo (ou teoria) de que sempre será bem alimentado. Mas isto só dura até o dia de Ação de Graças.

Mas teorias nem sempre são fáceis de serem quebradas. A teoria da Terra plana ainda hoje é defendida por alguns. Quando o assunto é tecnologia, já vimos várias vezes o fenômeno chamado de “lock in”. É quando uma tecnologia melhor não consegue substituir outra mais antiga ou pior. A explicação é que as pessoas já estão acostumadas como uma e acreditam que será muito esforço aprender a nova. Isto aconteceu com o teclado qwerty e com o padrão VHS de fitas de filmes. O tablet também foi inventado pela Microsoft 10 anos antes do Ipad, mas só se popularizou com este último. E justo porque Jobs permitiu que diversas empresas pudessem criar aplicativos para o Ipad. Ou seja, você compra um dispositivo e pode baixar de graça ou comprar funcionalidades adicionais, coisa que não acontecia no tablet da MS.

Por outro lado, às vezes é necessário que um mercado todo se estabeleça para que uma nova tecnologia se popularize. A Kodak não acreditou na fotografia digital que ela mesma ajudou a inventar. Isto porque não imaginava um mercado sem os filmes tradicionais. Mas o celular emplacou anos depois de sua criação porque as empresas criaram também antenas. E o fax só ficou visível ao grande público depois que muitos já o tinham e usavam.

A quebra de paradigma permite inovações. Procure por imagens de como eram as técnicas para a modalidade de atletismo conhecida como “salto em altura”. Veja o quanto as técnicas mudaram. E como uma técnica maluca se tornou a mais eficiente e popular hoje em dia (saltar de costas fazendo um arco).


Sven Magnus Øen Carlsen é um mestre de xadrez norueguês, campeão mundial e que já derrotou Kasparov. Sua técnica ? Utilizar movimentos que não se enquadram no padrão dos grandes mestres e nem nos históricos de jogos clássicos. Com isto, ele desconcerta os adversários, que não sabem o que Magnus está planejando, e isto abre caminho para aplicar suas estratégias vencedoras.