sexta-feira, 15 de agosto de 2014

As dimensões culturais e as diferenças entre povos - o modelo de Hofstede

Segundo Winston (2006), o comportamento humano é influenciado por genes (instintos) e pelo ambiente em que vivemos. Nada está pré-definido, apesar de alguns autores acreditarem que não existe livre arbítrio e livre vontade no nosso cérebro. Por outro lado, autores como Dawkins (2007) afirmam que nossos genes servem como predisposição para aprender e adaptar-se a novas situações; os genes são roteiristas de filmes, mas diretor e atores podem mudar rumos. Winston (2006) acredita que nosso desenvolvimento depende da cultura e das pessoas à nossa volta.

Tooby e Cosmides (1992) definem cultura como um conjunto de “práticas de comportamento amplamente distribuídas ou quase universais de grupo, incluindo crenças, sistemas de ideação, sistemas de símbolos significantes ou substâncias informacionais de algum tipo.” A cultura é mantida e transmitida pelo grupo, explicando assim similaridades intra-grupo e diferenças entre grupos. A cultura é replicada de geração para geração, através de aprendizado, podendo ser chamado de socialização. O indivíduo é mais ou menos um receptor passivo da cultura e é produto da cultura.

Para Hofstede (2001), cultura é a programação coletiva da mente que distingue um grupo ou categoria de outro. É um fenômeno coletivo, porque é compartilhado por pessoas que vivem ou viveram no mesmo ambiente social, no qual a cultura foi aprendida. A cultura é aprendida e não herdada; deriva do ambiente social e não dos genes.

Para Hofstede (2001) existem diferentes camadas culturais, sendo que cada pessoa pertence a diferentes grupos ou categorias ao mesmo tempo. As camadas culturais incluem a família, o país, a região onde a pessoa nasceu ou mora, a geração (faixa etária), o gênero (se masculino ou feminino), o nível ou classe social e a cultura organizacional (interna à empresa).

Para Hoftstede (2001, 2011), exitem 6 dimensões culturais independentes, associadas às distinções feitas pela sociologia organizacional. Estas dimensões a maior parte das práticas no meio social, especialmente dentro de organizações. Estas dimensões podem ser utilizadas para descrever as culturas organizacionais. As 6 dimensões são:
1. Distância ao Poder: como pessoas e instituições aceitam as diferenças de poder;
2. Anulação da incerteza: como pessoas se relacionam com um futuro desconhecido ou incerto, para estarem ou não confortáveis com isto;
3. Individualismo X Coletivismo: como é a integração e o trabalho conjunto entre indivíduos;
4. Machismo X Feminismo: divisão de papéis entre homens e mulheres;
5. Orientação de longo X curto prazo: relacionada com as escolhas, focadas no presente e passado ou no futuro;
6. Indulgência X limitação: relacionada à gratificação e ao controle de desejos básicos.

Hofstede avaliou e comparou países em cada uma das dimensões. No caso da distância ao poder: o primeiro país do ranking (com maior distância de poder) é a Malásia, seguida de Guatemala, Panamá, Filipinas, México, etc. O está Brasil em 14o lugar, enquanto que EUA está em 38o. Os últimos da lista de Hofstede são Israel em 52o e Áustria em 53o. Culturas com maior distância de poder, fazem distinção entre mais velhos e mais jovens. Aqueles são respeitados e temidos. Os jovens encaram naturalmente a obediência aos mais velhos. A educação está centrada no professor e há uma forte hierarquia. Subordinados esperam ser orientados sobre o que fazer.

Quanto à dimensão individualismo X coletivismo, os países onde as pessoas são mais individualistas são EUA, Austrália, Grã-Bretanha, Canadá, Holanda, Nova Zelândia e Itália. O Brasil encontra-se em 26o lugar. Pessoas de países de língua espanhola são mais colaborativas.

Em outra dimensão, os países com culturas mais machistas são Japão, Áustria, Venezuela, Itália e Suíça. Os menos machistas são: Dinamarca, Holanda, Noruega e Suécia. O Brasil está em 27o lugar.

No que se refere a lidar com a incerteza, os países com maior grau de anulação de incerteza são Grécia, Portugal, Guatemala e Uruguai. O Brasil está em 22o lugar enquanto que Jamaica e Singapura estão lá embaixo na lista. Uma forte anulação de incerteza significa que a incerteza é encarada como algo contínuo contra que se deve lutar. Há mais stress, ansiedade e neuroticismo. Há índices menores de satisfação, bem-estar e saúde. Há mais intolerância com pessoas e ideias. Em termos de educação, os professores são considerados oniscientes.

Quanto à dimensão de orientação, culturas com orientação a longo prazo dão mais importância a eventos futuros do que passados. Procuram olhar para o futuro, aprender com outros países e acreditam que bem e mal dependem das circunstâncias. Já as culturas com orientação a curto prazo acreditam que os eventos mais importantes acontecem no passado ou no presente, que a tradição não deve ser alterada, que as pessoas não devem mudar e que há orientações universais sobre bem e mal. Possuem maior orgulho do país que nas culturas orientadas a longo prazo. Os primeiros países do ranking (com alto grau de orientação a longo prazo) são os asiáticos, entre eles China, Hong Kong, Taiwan, Japão, Coréio do Sul, Índia, Tailândia e Singapura. O Brasil encontra-se em 6o lugar.

Oriente X Ocidente

Uma das maiores diferenças está entre as culturas de povos do oriente e povos do ocidente. Abaixo segue uma tabela que resume as diferenças entre estas culturas, como exposto pelo documentário produzido e dirigido por Jeong-Ook Lee e escrito por Kim Myung-Jin (2008).



Referências:


DAWKINS, Richard. O Gene Egoísta.Companhia das Letras, 2007.

HOFSTEDE, Geert H. Culture's Consequences: Comparing Values, Behaviors, Institutions and Organizations Across Nations. SAGE, 2001.

HOFSTEDE, Geert H. Dimensionalizing Cultures: The Hofstede Model in Context. Online Readings in Psychology and Culture, v.2, n.1, 2011.

LEE, Jeong-Ook; MYUNG-JIN, Kim. The East and the West. EBS Documentary by Korea
Educational Broadcast System, 2008.

TOOBY, John; COSMIDES, Leda. The psychological foundations of culture. p.19-136.
In: BARKOW, Jerome H.; COSMIDES, Leda; TOOBY, John (eds.). The Adapted Mind: Evolutionary Psychology and the Generation of Culture.
New York: Oxford University Press, 1992.

WINSTON, Robert. Instinto humano. São Paulo: Globo, 2006.