Os males da velocidade da informação – Direto para a
sobremesa
O 2º V do Big Data é a velocidade das informações. Antes
disto, estamos sendo soterrados por grandes volumes de informações (1º V). E
tem ainda a Variedade de Informações, 3º V, que torna a vida ainda mais
complexa.
A Velocidade é acelerada por novas tecnologias de transmissão
de informações, como satélites, fibras óticas, 3G/4G e redes wifi. Mas também é
impulsionada por aplicativos que permitem facilmente publicar ou postar suas
próprias informações e compartilhar as dos outros na velocidade de um click.
A primeira consequência negativa é a necessidade de atualização
constante. Como tudo muda muito rapidamente, inclusive modas e astros pops,
temos que correr para ficar na “onda”. E as notícias correm rápido também,
então temos que acelerar para estar a par de tudo. Isso cria um sentimento de
estar sempre por fora de tudo.
A segunda consequência negativa é a falta de tempo para
pensar, avaliar e tomar decisões. Isto nos impele a seguir com as massas, a não
nadar contra a correnteza. Somos homens e mulheres massa como dizia Ortega y
Gasset. Este sentimento de pensar como o grupo, e não querer discordar, ajuda a
viver, pois não temos conflitos nem gastamos energia pensando. Aí entra a
civilização do espetáculo que Vargas Llosa bem descreveu. Somos “maria vai com
as outras” (ou “josé vai com os outros”).
A terceira consequência ruim é acelerar a tomada de decisão.
Se no parágrafo anterior, eu disse que a tendência é não tomar decisões, quando
vamos tomá-las procuramos usar nosso sistema rápido, como sugerido por Daniel
Kahneman. Aí entram as intuições, emoções e instintos. O raciocínio lógico e o
método científico sucumbem ante argumentos como “eu acho”, “eu sinto que”, “me
parece que”.
A quarta consequência, decorrente das duas anteriores, somos
mais facilmente influenciados. As empresas de marketing já descobriram a
importância dos influenciadores na Internet e redes sociais. E isto funciona
muito bem. Não temos mais opinião própria e sim a opinião dos influenciadores.
A quinta consequência é a falta de foco e de profundidade. Não
temos tempo nem paciência para nos concentrar num assunto, para ler um texto
inteiro, para nos aprofundar num tema. Nicholas Carr, no livro “Os Superficiais
– O que a Internet está fazendo com nossos cérebros”, diz que isto inclusive
está mudando nosso cérebro internamente.
Por fim, a pior das consequências: a busca por resultados de
curto prazo. Ninguém mais tem paciência para esperar. A espera é um suplício.
Antes era um prazer. Esperar o Papai Noel era um momento de ansiedade e ao
mesmo tempo alegria. A dopamina a mil. E depois o prazer de recebê-lo e receber
os presentes. Antes a gente comia o feijão com arroz de olho na sobremesa.
Agora queremos a sobremesa logo. E assim o sexo antes do casamento e sem
preliminares, a sexualização e o amadurecimento precoce de crianças, o salário
antes do trabalho, jovens não querendo mais estudar e sim ganhar dinheiro (vide
aumento de investidores na bolsa e em bitcoins), o sonho de criar um novo
Facebook ou até mesmo a mega sena sem precisar trabalhar. Por isto o aumento de
antidepressivos e outras drogas usadas para felicidade o quanto antes. Isto
tudo explica o sucesso de negócios tipo Netflix, Aliexpress e outros de comércio
eletrônico, Tinder, Whatsapp (ao invés de e-mail ou carta), fastfood, etc.
A consequência mais nefasta da velocidade de informações é a
necessidade de recompensas imediatas e prazer acima de tudo, o puro hedonismo.
Mas há movimentos contrários como slow food e espaços
gourmet, para cozinhar com amigos e com prazer, técnicas e espaços para meditação,
templos religiosos para rezar, livros para ler e filmes para simplesmente chorar.
E para terminar, uma frase que vi pichada num muro: “A
felicidade não é uma estação de chegada, mas um meio de viajar”.
Um comentário:
Excelente artigo. Parabéns.
Postar um comentário