Se a teoria de Richard Dawkins (“O Gene Egoísta”) estiver
certa, somos todos descendentes e portadores de genes egoístas. A teoria
consiste em que os seres egoístas têm mais chances de sobreviver e assim passar
seus genes para seus descendentes. Dawkins argumenta e defende sua teoria até
mesmo com exemplos aparentes de altruísmo (quando alguém dá sua vida ou a põe
em risco por causa de outros). Uma gazela que salta na frente de um predador
não está querendo avisar seus semelhantes muito menos provocando o predador.
Sua intenção é mostrar ao predador que ela sabe saltar alto e pode fugir
facilmente, sugerindo que o predador procure outra vítima.
Dawkins também fala do altruísmo recíproco, quando por
exemplo um macaco coça outro esperando mais tarde ser coçado por este mesmo
“colega”. Até mesmo nestes casos, o egoísmo está presente: o que pede para ser
coçado precisa disto para sobreviver (retirada de carrapatos, por exemplo). A
teoria de Dawkins é que existem genes que definem nossos comportamentos, e alguns
destes estão associados ao egoísmo, como uma busca por sobrevivência.
Isto pode explicar alguns comportamentos individuais em
organizações no tocante a disseminação de informações e conhecimento.
Há interesses egoístas que não afetam o grupo todo. Por
exemplo, pessoas escrevem textos ou fazem vídeos por puro prazer ou para
descarga de energia e tensões. Os estudos neurológicos de Luke Chang, Alec
Smith, Martin Dufwenberg e Alan Sanfey concluem que as pessoas colaboram para
não se sentirem mal (aversão à culpa). Algo como "estar de bem consigo
mesmo". Eles acreditam que a cooperação humana seja motivada por
sentimentos morais. Mas a moral vem do grupo e aí retornamos ao altruísmo
recíproco. “A sociedade civilizada é
baseada na cooperação e na confiança”, dizem.
Mas há razões individuais que focam o grupo. Por exemplo, uma
pessoa compartilhar conhecimento para valorizar uma comunidade, para que isto
retorne de alguma maneira mais tarde para ela (recompensa tardia).
Ainda em relação ao grupo, pode-se buscar valorização
individual dentro do grupo (altruísmo interesseiro). Então uma das razões e
motivação para compartilhar informações pode estar no interesse egoísta de
“querer aparecer” ou na busca pela fama. Isto pode ocorrer porque o indivíduo
quer ser notado ou se diferenciar dos demais do grupo. É exatamente o
comportamento inverso da gazela. A pessoa compartilha para aparentar ser melhor
que os colegas, e então “cair nas graças” do chefe, para manter sua empregabilidade.
Um comportamento semelhante (e egoísta) é motivado para
receber reconhecimento entre os colegas (melhorar sua reputação e garantir
benefícios futuros). Aí os olhos que se buscam não são o do chefe, mas dos
pares. Isto pode ajudar no momento de promoções por votação, ou mesmo quando
avaliações são feitas pelos colegas.
Outro exemplo de motivação egoísta é compartilhar informações
para receber informações de volta. Isto nos faz retomar o caso do altruísmo
recíproco: o indivíduo faz porque acredita que os demais colegas também irão retribuir.
Este é o princípio que alimenta o chamado Crowdsourcing. Em muitos casos, um
indivíduo sozinho não consegue resolver problemas. Então o grupo, pela sabedoria
das massas ou inteligência coletiva, pode gerar melhores soluções. E seria
um interesse egoísta se a solução resolve um problema de quem iniciou o
processo.
O altruísmo recíproco na colaboração entre pessoas pode ter
efeitos negativos, quando a retribuição falha, não ocorrendo ou acontecendo em
quantidade inferior à expectativa. Isto gera um
desequilíbrio econômico tal que os indivíduos perderão o interesse em
compartilhar. E novamente, é uma motivação egoísta (esperar retorno).
Por outro lado, as recompensas por compartilhar podem vir da
organização e não dos colegas. Muitas empresas estão usando gameficação para
avaliar pessoas. A ideia é uma analogia com os jogos eletrônicos, onde
jogadores devem passar por fases, ganhando pontos ou vidas, ou até mesmo
perdendo vidas. A cada boa ação do funcionário, ele é recompensando por uma boa
avaliação (por exemplo, numérica). Uma variação disto é dar prêmios (por
exemplo, bônus em dinheiro ou viagens) para aqueles que se destacarem como
campeões na disseminação de conhecimentos ou ajuda a colegas.
Segundo Dawkins, alguns seres agem altruisticamente somente
para serem aceitos no grupo, ou para não serem excluídos. Por exemplo, os
macacos que não coçam outros são até mesmo hostilizados e recebem agressões.
Então, o compartilhamento de informações por pessoas também pode ser motivado
por causas semelhantes, para o indivíduo ser aceito no grupo ou para não ser
excluído. E isto também é uma motivação egoísta.
Dawkins relata o caso de aves que dão gritos específicos
para avisar o bando que há predador por perto. Apesar de aparentemente ser um
ato altruísta, pois a ave coloca sua vida em risco, Dawkins diz que as aves
fazem isto para que todo o bando fuja junto. Uma ave voando sozinha é mais
fácil de ser pega, pois fica exposta. Esta é a vantagem de estar na multidão.
Isto de certo modo, é uma forma de manipulação de "colegas". Na
disseminação de informações, também pode ocorrer o mesmo comportamento. Pessoas
compartilhando e influenciando outros para também compartilharem, mas com o
intuito egoísta de "não ficar sozinho" ou para engrossar o grupo de
descontentes em luta por uma causa. Este é um caso comum quando se tem um apelo
ideológico: compartilhar para engajar ou recrutar mais pessoas, para fomentar ou
espalhar ideologias e crenças.
Este comportamento é diferente do que ocorre com as renas ao
fugirem dos lobos. Quando uma rena avista um lobo, ela sai correndo sem avisar
o bando (comportamento egoísta). As que estão próximas da que correu primeiro,
também correm, sem procurar saber o motivo. E assim por diante com as demais
renas. Como não há uma organização nesta corrida desesperada, e cada uma corre
para um lado e com um padrão diferente, o lobo não sabe a quem seguir e fica
confuso, acabando por não capturar nenhuma rena. Então o ato egoísta de cada
rena acaba por beneficiar o grupo todo. No caso de disseminação de informações,
seria o caso de alguém compartilhar por interesse egoísta (por exemplo, descarga
de energia)
Há também um outro comportamento egoísta que envolve o
grupo. Acontece quando alguém compartilha para testar ideias ou sondar o que os
outros estão pensando (coletar feedback).
Isto permitira descobrir quem é quem no grupo, quais os papéis, quem são os
influenciadores, quem está em cima do muro, etc.
Segundo o biólogo Richard Alexander, os seres humanos
cooperam para competir. Ele e o psicólogo Nicholas Humphrey compartilham a teoria de que o cérebro
humano se desenvolveu rapidamente pela necessidade de nos relacionar, para
sermos mais fortes. Entender as relações internas no grupo foram vitais para
melhor comunicar ideias, compreender os outros e organizar o grupo para traçar
estratégias contra rivais.
Por outro lado, informação é poder. Se estamos
compartilhando informações, estamos também cedendo parte de nosso poder aos
outros. Estamos cedendo parte de nossos recursos ou mesmo tesouros. Talvez algo
que nos custou muito para conseguirmos. E por que simplesmente dar aos outros,
sem receber retorno ? Isto se constitui num dos maiores desafios para as
empresas. Todas sofrem com problemas de rotatividade em equipes, com altos
custos e demanda de tempo para treinar novos colaboradores, com a falta de
registro de como foi feito "o caminho das pedras".
Pessoas possuem informações e conhecimento, soluções para
problemas ou partes das soluções. Como motivá-las a compartilhar ? Uma alternativa
seria procurar uma razão egoísta em cada um, incentivando seus interesses
particulares. Isto pode incluir um dos fatores descritos acima. Por outro lado,
não devemos condenar quem não compartilha. Ele ou ela pode simplesmente estar
esperando o momento mais propício. Ou pode ser questão de personalidade
(timidez, medo). Ou pode haver outras barreiras como ... Mas isto é assunto
para outras postagem.
Um comentário:
Então eu te pergunto, qual seria o teu motivo egoísta para compartilhar tais informações tão interessantes?
Ps. Ótimos posts, parabéns!
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