O Início de Tudo
Segundo Leakey (1981), as medições mais recentes apontam
para 13,3 a 13,9 bilhões de anos
atrás como o início do Universo como conhecemos hoje. O que havia antes não se
sabe. Talvez fosse um Universo parecido como este, que acabou encolhendo e
virando uma bola de matéria compacta. E daí a explosão (big bang) para formar o
que conhecemos hoje.
A formação do Sol, dos Planetas e da Terra se dá em 4,6
bilhões de anos atrás. Cem milhões
de anos após o nascimento do Sol, um asteroide do tamanho de um planeta bateu
na Terra. Os estilhaços passaram a girar ao redor da Terra e formaram a
lua.
Há 200 milhões de anos atrás, a Terra vivia a Pangeia, onde todos
os continentes estavam ligados. A separação ocorreu há 100 milhões de anos.
A vida na Terra começou há 3,5 bilhões de anos com seres
unicelulares. No livro “Diversidade da vida”, Edward O. Wilson (1994) explica
bem como aconteceu a evolução destes seres para criaturas mais complexas. A
explosão cambriana se deu 500 a 540 milhões de anos atrás, quando animais
macroscópicos, grandes o suficiente para serem vistos a olho nu, evoluíram por
irradiação gerando as criaturas atuais. A vida começou na água mas os animais
saíram da água para buscar alimentos e aí surgiram os répteis e por aí vai.
A teoria mais aceita atualmente para esta diversificação é o
Evolucionismo proposto por Charles Darwin e Alfred Russel Wallace.
A evolução do gênero Homo
Um resumo da nossa evolução:
Australopithecus è Homo habilis è
Homo erectus è Homo Heidelbergensis è Homo sapiens è
Homo sapiens sapiens
Segundo Jared Diamond (1997) no livro “Guns, Germs and Steel”,
a separação do Homem dos macacos se deu há 7 milhões de anos atrás (de 5 a 9
milhões de anos).
O último ancestral comum aos
chimpanzés e seres humanos que se tem conhecimento é o fóssil Lucy, descoberto
na Etiópia em 1974, datando de 3,2 milhões de anos atrás (Johanson, 1994).
Pesava 50 quilos e media 1 metro e 20 centímetros. Foi classificada como
Australopithecus afarensis.
Segundo Leakey, anterior ao
Australopithecus, havia o Ramapithecus, que desaparece dos registros fósseis há
8 milhões de anos, gerando um “gap” de 4 milhões de anos. Ainda se busca o tal
“Elo Perdido”, ou seja, busca-se encontrar fósseis deste período para explicar
e ligar as espécies, detalhando mais nossa a evolução.
Conforme Richard Potts (1998), pesquisas
sugerem que nosso primeiro habitat foram as florestas. As árvores eram seguras
contra predadores e ofereciam alimentos (folhas, frutos, grãos). Então o clima
esfriou e as florestas tropicais diminuíram. Com menos árvores, os Hominídeos
precisam descer das árvores em busca de alimentos. Mas andar de quatro no chão
não é vantagem. Não se consegue defender ou atacar, nem mesmo enxergar o
inimigo. Por isto, nossos ancestrais começam a andar em 2 pés. Segundo Leakey
(1981), há registros de Hominídeos andando em pé há 3,75 milhões de anos. As
mãos livres também permitem carregar alimentos e jogar pedras. A passagem para
o bipedismo é dramática, gerando mudanças radicais nos ossos, músculos e órgãos
internos.
Conforme Steven Mithen (1999), compartilhamos
99% do DNA com macacos. Então as diferenças físicas entre pessoas de raças
diferentes, apesar de bem visíveis externamente, refletem pouquíssimas
diferenças nos genes.
O Homo habilis
O Homo habilis aparece há 2 milhões de anos atrás na África
Oriental. Seu cérebro tem cerca de 800 cm3 (Leakey, 1981). São os primeiros a
utilizar ferramentas de pedra totalmente feitas por eles e também são os que
iniciam o consumo de carne, sem deixar de serem herbívoros (chamados onívoros,
pois comiam de tudo). Os dentes caninos são evidência do hábito de comer carne.
Talvez o ato de comer carne tenha vindo da imitação dos
grandes predadores. Olhando a força e a dominação destes animais, o Homo habilis
deve ter desejado ser tão forte que começou a imitar os hábitos dos grandes
predadores.
O Homo erectus
O Home erectus aparece entre 2 milhões e 300 mil anos atrás
(Leakey, 1981). Seu cérebro tem cerca de 900 a 1.100 cm3. É um caçador-coletor.
Segundo Hassen Chaabani (2008), foram os primeiros a migrar para fora da África,
aproximadamente há 1,7 milhão de anos (data determinada por fósseis).
A nossa origem (de todos os seres humanos) foi rastreada por
análise de DNA resultando em que somos descendentes de um indivíduo do sexo
feminino que viveu na África Oriental, chamada de Eva mitocondrial. Nossa
origem está nas savanas africanas.
Uma segunda migração para fora da África ocorreu entre 840 e
420 mil anos (determinada por análise da hemoglobina β e regiões no cromossoma 16) e uma
terceira migração ocorreu entre 150 e 80 mil anos atrás.
Segundo Steven Mithen (Depois do Gelo, 1997), a saída da
África se deu pelo que hoje é o Egito ou pelo Golfo de Aden, entre África e
Ásia (ponta do mar Vermelho), com destino ao Oriente Médio. Daí os nômades
subiram para Europa (Ocidental e Oriental). Deslocaram-se da Ásia até a
América, via Estreito de Bering, chegando até o que hoje é o Alaska, passando
por China e Rússia, e dali desceram para povoar toda a América. Há quem suponha
também que alguns conseguiram chegar até a América pelo Oceano Índico, vindo
das ilhas polinésias. Prova disto é a colonização da Ilha de Páscoa e a
habilidade daqueles povos em fazer canoas. Conforme Leakey, um desvio de 20 km
por geração cobre 14 mil km em 20 mil anos. A figura abaixo ilustra os
movimentos migratórios.
O Homo erectus desenvolve novas técnicas de caça (organizada,
utilizando a cooperação para encurralar presa). Tem menos pelos e sua mais.
Utiliza praticamente a mesma tecnologia no período em que existiu (não houve
muita evolução nas ferramentas, apesar do período longo), consistindo de machados
manuais (formato de lágrima) e ferramentas para escavar, além do uso
do fogo.
Segundo Kirkpatrick Sale (2006), suas ferramentas sugerem
que o processo de criação incluía ideias de projeto, ordem, sequência,
separação, simetria, diametrização, paralelismo, tridimensionalidade e noções
de padronização. Mas as ferramentas permaneceram as mesmas sem muita inovação.
A propósito, cozinhavam alimentos com o
fogo e dentro de cavernas (moradias com formato oval). Cozinhavam para
pré-digerir os alimentos (facilitar ingestão e digestão). Os alimentos incluíam
a carne (principal alimento), tubérculos e vegetais e também
frutos do mar.
O intestino era menor, dando a entender que a dieta do Homo
erectus tinha mais qualidade e menos quantidade. Kirkpatrick Sale diz que não
há evidências de caça de animais grandes. Provavelmente comiam carne refugada
(ou excessos) de grandes predadores.
Segundo Kirkpatrick Sale, viviam em grupos estimados de 25
indivíduos, 5 ou 6 famílias.
Não havia líderes, chefes ou xamãs. Eram nômades, então não
possuíam habitações, nem campos permanentes. Não usavam ornamentos nem roupas e
por isto não tinham noção de posse ou direito de propriedade.
Não acumulavam bens ou comida. Ferramentas eram raramente
carregadas, uma vez que poderiam fazê-las no lugar onde estivessem com os
materiais locais. Então também não havia o sentimento de ciúmes, pelo menos
sobre materiais.
Não faziam túmulos nem tinham religião ou mágicas,
associadas a crenças em espíritos e vida após morte. Aceitavam a morte como
parte normal do ciclo da vida. Por isto, não faziam rituais de sepultamento nem
criavam mitos para negar a morte ou estender a vida em outro mundo.
Era uma vida de cooperação e compartilhamento, vivência em
família e parcerias, intensas relações sociais e cuidado mútuo, igualdade de
sexos e classes, sem sinais de hierarquias ou autoridades.
A pelvis era menor, restringindo o parto, por isto bebês
tinham cabeças pequenas. Um cérebro maior exige mais tempo para formação, o que
gera mais trabalho para pais alimentarem os bebês e mais tempo de aprendizado
fora do útero para adaptação ao ambiente natural.
O´Connell e parceiros (1999) sugerem
que a expectativa de vida aumentou com o Homo erectus, gerando avós. Ou seja,
os indivíduos viviam mais e conseguiam conhecer seus netos. Os avós tinham uma
grande importância ajudando a cuidar dos netos, enquanto pais caçavam e
colhiam.
Este era o chamado “nobre
selvagem”, vivendo harmoniosamente com a natureza e entre si, numa sociedade
pacífica, com comida para todos, com cooperação e compartilhamento, ajuda mútua
e com pouca violência entre grupos ou intragrupo. Alguns autores (entre eles
Jared Diamond) chegam a afirmar que este seria o melhor modo de vida para os
humanos, melhor que a sociedade atual e que o período em que a agricultura
dominou.
Conforme Richard Potts (1998), o uso de
ferramentas, a caça, compartilhamento de comida, grande cooperação social
parecem estar associados a uma vida em ambientes não tão abertos. Muitas
mudanças evolucionárias ocorreram nos Hominídeos durante o último milhão de
anos. Um rápido aumento no volume do cérebro ocorreu entre 780 e 130 mil anos
atrás. Pesquisadores sugerem que este aumento do cérebro está associado
a mudanças climáticas, necessidade de encontrar comida, fabricação de ferramentas
e vivência em grupos. A evolução então teria se dado por necessidade de adaptação
a diferentes ambientes (e nada favoráveis).
O Neanderthal
Segundo Leakey (1981), o Neanderthal tinha cérebro de 1400
cm3 (o mesmo que o Homo sapiens) e viveu na Europa entre 130 e 70 mil anos durante
uma Era glacial (noites geladas e verão com 15o C). Tinham testa mais baixa, eram
mais fortes que humanos modernos, tinham arcadas superciliares proeminentes, altura
aproximada de 1,67 cm. Eram peritos na caça, faziam roupas para frio, faziam
sepultamentos com rituais, cuidavam dos doentes. Conviveram durante certo
período com o Homo sapiens (inclusive nos mesmos lugares). A diferença
principal para o sapiens é que usavam a pedra lascada (diferente de fazer
ferramenta polindo ou refinando), dando a entender que não eram tão
inteligentes quantos os sapiens.
Desapareceram há 35 ou 40 mil anos, provavelmente
sobrepujados pela competição com sapiens ou pelo cruzamento com sapiens (e
desaparecimento dos genes e traços dos Neandertais).
Os Neanderthais teriam tido um
ancestral comum com o Homo sapiens, mas tinham olhos e corpo maiores. Olhos
maiores porque viviam no norte da Europa onde tinha menos luz. Uma hipótese é
que os Neandertais teriam se extinguido porque não tinham as mesmas capacidades
cognitivas que o Homo sapiens. Uma teoria para esta diferença cognitiva é que,
com olhos e corpos maiores, os Neandertais necessitavam mais área no cérebro
para coordenar os olhos e corpo. Outra teoria é que olhos maiores ocupavam mais
espaço no crânio, diminuindo espaço para o cérebro. Menos cérebro, menos
capacidade para processar informações, menos condições para coordenar
interações sociais. E menos chances de sobrevivência (a tão criticada seleção
de grupo).
O aumento do cérebro e o Homo sapiens
O Homo sapiens aparece nos registros arqueológicos há 170 mil anos
(Mithen).
Segundo
Peter Gardenfors (2003), somos a única espécie capaz de:
- · Pensar no futuro,
- · Fazer ferramentas para usar no futuro (outros animais fazem ferramentas mas para uso imediato),
- · Comunicar fatos sobre passado e futuro (mas alguns animais como macacos e golfinhos podem planejar guerra e emboscadas),
- · Realizar representação simbólica do mundo (Dehaene, 1999, discute se outros animais podem contar),
- · Ter empatia (mas outros animais também tem),
- · Fazer simulação da mente de outra pessoa (o que o outro está pensando),
- · Auto-consciência,
- · Poder escolher que som produzir (articular a fala),
- · Simular ambientes.
Philip Johnson-Laird (1983) complementa que somos capazes de
produzir 3 tipos de representação: proposições (sequência de símbolos), modelos
mentais (analogias do mundo real) e imagens (modelos).
Dennet (1976) argumenta que houve uma transição de uma intencionalidade
de primeira ordem para segunda ordem. Um sistema intencional de primeira ordem
possui crenças e desejos, mas não pode raciocinar sobre estas crenças e
desejos. O sistema de segunda ordem tem crenças e desejos sobre as crenças e desejos
de si mesmo e dos outros.
O Homo sapiens é a espécie do gênero Homo com maior cérebro. Segundo
Steven J. Mithen (“Seven steps in the evolution of the human imagination”) e o
livro de Leakey e Lewin (1980), o tamanho do cérebro de algumas espécies segue
abaixo:
- · chimpanzé 400-450 cc
- · gorila 500 cc
- · Australopithecus Afarensis 400 cm3
- · Australopithecus africanus 450 cc
- · Australopithecus robustus 500 cc
- · Homo habilis 500-750 cc
- · homo rudolfensis = 700 cm3
- · homo ergaster = (1,75 milhões de anos) 850 cm3
- · Homo erectus - fase inicial 900 cc
- · Homo erectus - fase tardia 1500 cc
- · Neanderthal 1500 cc
- · Homo sapiens 1400 cc
A
teoria é que um cérebro maior permitiu maior inteligência e com isto melhor
adaptação, seleção e sobrevivência (inclusive com dominação sobre antigos
predadores). Mais adiante neste texto há uma seção que explica o
desenvolvimento do cérebro.
Não se
sabe bem se o cérebro aumento porque começamos a comer carne ou se trocamos a
dieta de vegetais pela carne para poder dar mais energia a um cérebro maior e
mais ativo. O cérebro contribui com apenas 2% do peso do corpo humano mas exige
20% da energia produzida (Winston, 2006). Vegetais demoram a ser digeridos e
assim demoram a gerar a energia demandada. A carne pode gerar mais energia em
menos tempo e com menor quantidade de material. Kirkpatrick Sale sugere também
que ácidos graxos tipo Omega podem também ter ajudado no aumento do cérebro,
especialmente quando os primeiros hominídeos começam a se alimentar de peixes e
frutos do mar.
Um
cérebro maior exige mais tempo para formar e aprender. Macacos nascem e em
poucos dias de vida e já são autossuficientes. A gestação humana de 9 meses não
é suficiente para formar o cérebro. O bebê humano precisa dos pais para
sobreviver por muitos meses e neste tempo vai completando a formação de seu
cérebro.
O
cérebro só não aumentou mais durante nossa evolução por 2 motivos:
a)
exigiria uma pélvis maior nas mulheres para o parto, o que inviabilizaria andar
em 2 pernas; e
b)
exigiria mais energia, que nosso corpo não consegue produzir (o professor Alex
Pentland alega ser possível introduzir no corpo humano energia de fontes
externas para aumentar a capacidade do cérebro).
Talvez
por acaso os primeiros hominídeos descobriram que cozinhar a carne a tornava
mais fácil de digerir e mais saborosa. O livro de Wrangham (“Pegando Fogo -
Como Cozinhar nos Tornou Humanos”, 2010) explica em detalhes esta parte de
nossa evolução (há um resumo em http://super.abril.com.br/ciencia/panela-viemos-614296.shtml).
Uma
das discussões é se um cérebro maior realmente favorece a inteligência. Nos
seres humanos, isto não faz diferença. E até já analisaram o cérebro de Albert
Einstein para ver se fisicamente havia alguma diferença para cérebros de
pessoas normais. Não descobriram nada. Da mesma forma, animais com cérebro
maior que o nosso não são mais inteligentes. Nem mesmo animais com cérebro
maior em termos proporcionais ao corpo também não são mais inteligentes.
Winston
(2006) afirma que o martelo permaneceu o mesmo durante 2 milhões de anos (sem
inovações), mas o cérebro aumento 50% (do Homo erectus para o Homo sapiens).
Mas quase triplicou do Homo habilis para o Homo sapiens e a diferença de
invenções é bem superior.
O
professor e pesquisador Robin Dunbar acredita que nos tornamos mais
inteligentes não só pelo aumento da massa cerebral mas pelo aumento do grupo
social. Mark Pagel compartilha semelhante opinião. Não foi a necessidade de
criar ferramentas que fez o nosso cérebro mais inteligente, mas sim a necessidade
de controlar nossos semelhantes.
Um
grupo social maior exige mais inteligência para tratar com os outros, seja para
cooperação, para observar os outros e formar reputações, seja para negociar e
resolver conflitos. A conclusão dos estudos do prof. Dunbar é que o tamanho do
cérebro é proporcional ao tamanho do grupo social e diretamente associado ao
nível de inteligência da espécie.
Para
ser inteligente, não basta um cérebro grande em tamanho ou em relação ao corpo.
Somos a espécie mais inteligente mas não temos a maior relação, nem o maior
cérebro. Mas o tamanho proporciona maior número de neurônios e mais chance de
conexões (sinapses). E o que dá inteligência é justamente o poder de conexão
entre os neurônios. E segundo o prof. Dunbar, a necessidade de gerenciar um
grupo maior de pessoas exigiu mais conexões (mais memória para armazenar e
recuperar, mais associações para fazer).
Sale
contabiliza: num grupo de 6 pessoas existem 15 conexões possíveis 1-a-1. Já num
grupo de 25 pessoas, as conexões sobem para 300. E sugere que este seria o
limite diário de interações sociais num grupo harmonioso. Dunbar sugere que o
limite do nosso cérebro está associado a um grupo de 150 pessoas, incluindo
amigos diretos e indiretos.
Mithen
(2006) vê evidências de que as vocalizações foram importantes para criar e
manipular relacionamentos sociais, através do seu impacto nos estados
emocionais.
Mas há
autores que dizem que foi uma combinação de fatores que fizeram o cérebro
evoluir, incluindo fabricação de ferramentas, caça, fogo, vida social complexa,
linguagem e necessidade de adaptação a novos ambientes e condições adversas
(Potts, 1998).
Alguns grandes mcados não tem muitos códigos, talvez porque
não tenham muitos predadores e não precisem se comunicar para avisar um ao
outro (Knight et al., 1995).
O Big Bang cerebral
- o Homo sapiens sapiens
Muitos pesquisadores (entre eles, Steven Mithen, no livro "Depois
do Gelo”) acreditam que houve um salto na inteligência humana, uma explosão de
criatividade, mais ou menos entre 50 e 40 mil anos atrás. Pringle (2013) fala que a revolução também
aconteceu na África há 90 e 60 mil anos atrás.
Os martelos ficaram iguais por 2 milhões de anos. Aí houve um salto na
forma, no tipo de material. Uma rápida geração de inovações.
Alguns acham que foi de origem biológica, por mudança drástica nos genes e em pouco tempo (Cochran e Harpending, 2010). A revolução no cérebro pode ter acontecido por introgressão de genes alelos vindos de Neandertais, pois aconteceu na mesma época em que sapiens e neandertais se encontraram na Europa. Há 75 mil anos a população humana deixou de crescer, muito provavelmente devido à catástrofe de Toba, uma explosão vulcânica, que, segundo alguns cientistas, até fez a população descer para 10 mil indivíduos no mundo todo, criando um efeito de gargalo na evolução humana.
Nesta época, também surgem os funerais, a arte e o sagrado, o misticismo e a imaginação, a consciência da existência própria, a linguagem complexa, assim como poder pensar no passado e no futuro. Muitos lembram a metáfora da maçã de Eva.
A evolução na criatividade é mais evidenciada pela Arte rupestre, que datam deste período, principalmente na Europa mas também em outros lugares do mundo. Também foram encontrados outros artefatos de arte (esculturas em barro, osso, madeira e pedra), e evidências de simbologia, sugerindo abstração, como estatuetas e ossos com sinais (Leakey).
A arte pode ter surgido para transmitir informação para
pessoas cooperarem em ambientes hostis. Mas Chase (1994) diz que a cultura
simbólica não era essencial para sobrevivência. Foi uma era caracterizada por
novas invenções de coisas que não existiam no mundo real e que foram planejadas
no mundo imaginário.
Esta revolução deu origem ao Homo sapiens sapiens (Leakey).
A dúvida é: por que aconteceu com descendentes de chimpanzés
e não com golfinhos?
A
Inteligência
Conforme Pinker (1998), inteligência é a habilidade de
alcançar objetivos frente a obstáculos por meio de decisões baseadas em regras
racionais.
A origem da inteligência é muito controversa. Uma das
teorias evolucionistas é que o cérebro humano atual é formado por 3 camadas
(Sagan, 1986). A primeira camada é o complexo Reptiliano, que existe nos
répteis (de onde descendemos), que é responsável por controlar as funções
básicas do corpo como respiração, alimentação e locomoção. A segunda camada é o
sistema límbico, responsável pelas emoções. Somente os mamíferos possuem esta
2a camada. Isto significa que nem todos animais têm emoções. A 3a camada é o
neocórtex, responsável pela inteligência, pela capacidade de pensar no passado,
planejar o futuro, raciocinar, avaliar, decidir, etc. É a parte frontal do
cérebro. Nos Neandertais, esta parte não era tão desenvolvida, por isto a testa
deles era menor. Uma das razões possíveis, alegada por um recente estudo, é que
eles tinham olhos maiores, pois viviam em regiões com menos luz, na Europa e
assim precisavam de mais áreas do cérebro para controlar a visão (apesar de
terem um cérebro maior que o Homo sapiens).
Segundo Cochran e Harpending (2010), houve um grande salto
no desenvolvimento da inteligência humana quando a agricultura começou há 10
mil anos. Aqueles autores falam em indícios de muitas mutações em muitos genes,
em pouco tempo. Em 10 mil anos, teríamos evoluído 100 vezes mais rápido que nos
períodos anteriores (Ward, 2008). As causas possíveis podem ser devido à
transição da caça-colheita para a agricultura: a mudança na dieta, a
miscigenação devido ao aumento da população e mais contatos em grupos maiores
vivendo em cidades, ao surgimento de doenças pelo contato com animais
domesticados e pela pouca higiene por viver em um único lugar. Estes autores
acreditam que a inteligência pode ser hereditária e cita o caso dos judeus
asquenazes.
Por outro lado, Shenk (2011) conclui de seus estudos que o
desempenho, seja físico ou mental, é decorrente da combinação de genes e
ambiente, e não devido a somente um destes fatores.
Gabora e Kaufman (2010) afirmam que a diferença para nossos ancestrais
está não somente no aumento na capacidade de memória mas também numa nova forma
de utilizar a memória.
Segundo o psicólogo evolucionário Pinker (1998), a mente não
é uma entidade única mas uma combinação de faculdades especializadas para
resolver diferentes problemas adaptativos. Apesar de neurocientistas poderem
identificar regiões onde certas operações acontecem, a plasticidade do cérebro
indica que este órgão pode-se adaptar e nova regiões podem substituir operações
feitas por regiões danificadas.
Cosmides e Tooby (1997) definiram 5 princípios sobre a
mente:
1. O cérebro é um sistema físico que funciona como um
computador. Seus circuitos são projetados para gerar comportamento que é
apropriado às circunstâncias ambientais.
2. Nossos circuitos neurais foram projetados por seleção
natural para solucionar problemas que nossos ancestrais enfrentaram durante a
evolução da espécie.
3. A consciência é só a ponta do iceberg. A maioria das
coisas que acontece na nossa mente não é entendida por nós.
4. Circuitos neurais diferentes são especializados para
resolver diferentes problemas adaptativos.
5. Nosso crânio moderno acomoda uma mente da idade da pedra.
FOXP2
O gene/proteína FOXP2 é responsável pela fala. É este gene
que coordena a formação das cordas vocais. Quem não possui este gene não
consegue articular a fala. E não é devido a causas neurológicos, mas sim por
mal formação da garganta. Uma variante do foxp2 surgiu há 42 mil anos (Cochran
e Harpending, 2010). Entretanto, conforme Kirkpatrick Sale, o gene já existia
há 100 mil anos atrás, provavelmente não na forma como conhecemos hoje.
Krause et al. (2007) confirmam que os neandertais também
tinham este gente, dando a entender que eram capacitados para fala e linguagem.
Segundo Cochran e Harpending (2010), o tal gene pode ter surgido pelo
cruzamento de sapiens e neandertais.
Entretanto, segundo Laitmanm
(1983) apud Hassen Chaabani,
registros arqueológicos indicam que modificações anatômicas, necessárias para
produzir os principais sons que fazemos hoje, já estavam presentes no gênero
Homo entre 400 e 300 mil anos atrás.
Uma teoria é que este gene, além de permitir a fala, também
foi responsável pelo rápido desenvolvimento da inteligência. Aí fica a dúvida
se a fala veio antes ou depois da inteligência. Segundo Dunbar, a inteligência
aumentou porque o cérebro aumentou e este aumentou porque precisávamos
controlar um grupo social maior (e aí a fala pode ter sido essencial).
A Criatividade
Segundo Leakey, o Homo erectus conseguia imaginar o formato
das ferramentas e fazia pedras talhadas em simetria. Leakey afirma que a evolução
humana produziu um mundo mais ordenado, com processos mentais sequenciais
dominando a forma de pensar. Isto significa que o lado esquerdo do cérebro era
mais desenvolvido e maior, fazendo prevalecer a formalidade e a linguagem.
Conforme Carl Sagan no livro "Os Dragões do Éden",
o lado esquerdo do cérebro é que domina os humanos. Este lado é lógico,
sistemático. É ele que avalia o passado e planeja o futuro. É responsável pela
matemática e pela linguagem. É também o lado onde estão os escrúpulos. É ele
que nos controla para não fazermos (ou mesmo pensarmos) coisas imorais ou fora
da realidade. É sequencial, pois trata cada unidade de informação a seu tempo.
Já o lado direito é o lado criativo, responsável pelas
imagens. E as imagens vieram antes da linguagem. É o lado que não tem regras
nem controles. É também quem recebe os estímulos do mundo externo. É o agora, o
presente e o local. É paralelo, pois trata todos os estímulos simultaneamente.
A brilhante palestra da Dra. Jill Bolte Taylor (acessar aqui
https://www.youtube.com/watch?v=UyyjU8fzEYU)
fala sobre como uma neurocientista estudou o derrame cerebral acontecendo
consigo mesma e dá boas informações comparando os 2 lados do nosso cérebro.
Durante o dia, quem domina é o lado esquerdo. Temos regras,
bom senso, não fazemos nem pensamos coisas erradas. Mas de noite, quando
dormimos, o lado esquerdo está dormindo e aí o lado direito é que toma conta.
Por isto sonhamos coisas loucas (por exemplo, infringindo leis da Física) e
impróprias (sem escrúpulos).
Certos tipos de atividades exigem mais do lado direito.
Criar ou solucionar problemas por exemplo. É por isto que muitas soluções e
ideias criativas acontecem durante a noite, quando estamos sonhando ou quase
dormindo. A revista Info da Editoral abril, na edição de janeiro de 2012, fez
uma reportagem de como interferir nos sonhos para ter mais criatividade. Dizem
que Paul McCartney sonhou com a música "Yesterday". E assim há outros
tantos casos de ideias e soluções que surgiram durante uma noite de sonhos.
Segundo os estudos apontados por Sawyer (2006), criatividade não tem
relação com QI, mas tem a ver com motivação.
Sawyer (2006) afirma que o Racionalismo é a crença em que a criatividade
é gerada pela consciência, de forma deliberada, racional e inteligente. O
Romantismo acredita que a criatividade surge espontaneamente a partir de
eventos inconscientes e irracionais, exigindo uma regressão a um estado da
mente dominado por emoções e instinto, uma fusão entre eu-próprio e o mundo,
livre de racionalidade e convenções.
Pringle (2013)
sugere que a criatividade se desenvolve quando há grande número de pessoas
conectadas, onde uma "infecta" outra e novas ideias surgem. Koestler
(1964), Johnson (2010) e Sawyer (2006) falam da importância de conectar ideias
e amadurecê-las. Num grupo maior, este processo é acelerado. Geoffrey West diz
que a inovação aumenta em grandes centros urbanos (assista a palestra dele aqui https://www.youtube.com/watch?v=XyCY6mjWOPc).
Basalla (1988) cita alguns autores falando sobre criatividade:
·
Karl Marx: a invenção é um processo social,
baseado na acumulação de muitos
melhoramentos pequenos e não no esforço heroico de alguns poucos gênios.
·
Ogburn: à medida que população cresce, a probabilidade
de inventores também aumenta; se inventores nascem numa cultura que provê
treinamento técnico e premia inovação, inventores irão aparecer em grande
quantidade; o surgimento é devagar, mas a acumulação de inventos acelera porque
há mais elementos para combinar; a reação em cadeia que acelera inovações.
· Eugene
Ferguson: pensamento visual, não-verbal domina criatividade; primeiro acontece
a imagem ou visualização na mente do inventor
O Fim da Evolução ?
Segundo a opinião de Cochran e Harpending (2010), a Evolução Humana
parou (ou desacelerou) quando o ambiente ficou mais estável (como se a espécie
tivesse atingido seu ponto ótimo para aquele ambiente).
O que estaria evoluindo seria a
cultura e não os genes. A teoria é que vivemos num mundo tão estável que não
haveria mais seleção natural por adaptação ao meio; já estamos adaptados
totalmente ou então adaptamos o meio ao nosso desejo.
Os próprios Cochran e Harpending
acreditam nesta estabilidade: criamos casas e roupas para frio, remédios para
doenças, ferramentas e máquinas para o trabalho pesado. Não precisamos mais
evoluir no corpo. E até o cérebro humano parou de crescer. Talvez
estejamos só evoluindo na capacidade do cérebro.
Por outro lado, estamos vendo
indícios de atavismos. Por exemplo, muitas pessoas com intolerância a lactose.
Antigamente, adultos não tomavam leite. E crianças só tomavam o leite materno.
Com a domesticação de animais (cabras e vacas), todos passaram a tomar leite. A
seleção natural fez sobreviver os que tinham o gene que permitia aceitar o
leite que não era humano. Mas os antigos genes, que não toleravam leite de
outras espécies, podem estar voltando. Da mesma forma, pessoas que não podem
consumir glúten podem indicar a volta de um gene que não se deu bem com a
agricultura. E quem sabe até os distúrbios de atenção (discutidos mais adiante
quando falarmos da revolução cerebral que a Internet está causando).
E, por fim, há também indícios
pequenos de evolução genética. Há um caso de uma mulher na África que é imune
ao HIV. Se seus genes forem difundidos, talvez daqui a algumas centenas de anos
a maioria dos humanos poderá ser imune a este vírus.
Em outro capítulo, será discutida em detalhes a maior
revolução que aconteceu na evolução do Homem: a criação da agricultura.
Referências Bibliográficas
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