Muitos autores têm enfatizado a importância do fluxo de
ideias dentro de equipes e organizações para apoiar a inovação, melhorar a
criatividade, solucionar problemas e fazer gestão do conhecimento.
Alex Pentland (no livro "Social Physics")
apresenta resultados de experimentos reais provando que uma boa rede de pessoas
e interação pode aumentar inovação, empreendedorismo e retorno no investimento.
Quanto maior o número de conexões e mais ativas elas forem, as ideias fluem melhor
e vão se refinando. Pentland fala em resultados positivos com a tunagem
(tuning) da rede, como por exemplo:
a) acrescentando incentivos para pessoas participarem mais;
b) controlando o fluxo de ideias, para evitar que a mesma
ideia (sem melhoramentos) continue circulando de forma repetida;
c) controlando o fluxo de ideias para que ideias que pouco
circularam possam ganhar mais chances de avaliação.
Isto corrobora com os achados de Koestler e Johnson, que
confirmam a importância de amadurecer ideias e combiná-las para gerar
inovações.
Dyer e outros falam da importância de 5 habilidades num
inovador que servem também para ajudar pessoas em redes de cooperação e
inovação e demonstram a importância do fluxo de ideias para inovações.
1.
Associatividade
Steve Jobs dizia que Criatividade é conectar coisas (ver
livro de Kahney, "A cabeça de Steve Jobs"). Uma das formas de
conectar ideias é explorar áreas diferentes. Jobs aproveitou seu interesse por caligrafia
para fazer uma interface melhor para os primeiros computadores da Apple.
Pierre Omidyar conectou 3 ideias para criar o famoso site
eBay,:
a) fascinação por criar mercados mais eficientes;
b) desejo da noiva para localizar produtos difíceis de achar;
c) ineficiência dos classificados locais.
Por isto tudo, é importante estender domínios e
conhecimentos. A diversidade aumenta possibilidades, pois inclui mais
conhecimento e gera mais alternativas de soluções. Alex Pentland e Max Gunther
falam da importância da diversidade para negócios e fluxo de ideias. Um grupo
de trabalho precisa ser multidisciplinar, com pessoas trazendo conhecimentos
diferentes e talvez até pensando diferente.
Roger Marting (no livro "The Opposable Mind")
descreve pessoas criativas como aquelas que possuem ideias conflitantes. Isto
funciona como a Dialética, onde uma 3a ideia surge a partir de 2 ideias que
colidem. Johnson também confirma a importância de "colidir ideias"
para combiná-las.
Pentland fala da importância dos que contrariam, para evitar
que o fluxo siga sempre para o mesmo lado sem refinamento de ideias. Segundo
Nelson Rodrigues, o consenso é burro. A técnica de brainstorming é muito
adequada nestes casos porque é possível levantar alternativas sem pensar em
viabilidade e sem fazer críticas. A combinação de ideias muito diferentes gera soluções
diferentes, o que possibilita combinar as soluções ou avaliar uma ampla maior
de soluções possíveis.
Veja o comercial da Apple sobre "pensar diferente"
(clique aqui).
A famosa técnica dos 6 chapéus para discussões em grupos (ou
para formação de grupos de trabalho) diz que precisamos ter opostos discutindo.
Uma pessoa pessimista deve contrapor um otimista. Se só houver otimistas,
ninguém pensará em problemas futuros. Se só houver pessimistas, o objetivo
nunca será alcançado. A contraposição de ideias deve equilibrar as forças. Por
isto o famoso papel de "Advogado do Diabo" nas discussões é muito
importante. Os outros chapéus incluem contrapor alguém que usa sentimentos e
intuições com outro que só decide baseado em números e fatos. Assim também
alguém muito organizado e sistemático deve contrapor uma pessoa muito
imaginativa e sonhadora.
É por isto que executivos fazem cursos de 6 mil dólares para
aprender a subir em árvores e descer rios em botes (rafting). Porque precisam
aprender novas formas de tomar decisões, de ligar neurônios e gerar novas
ideias. Também ajuda fazer atividades diferentes. Se você trabalha num
escritório, faça dança, música, teatro ou escultura. E juntar arte com negócios
dá bons resultados. Jobs estudou artes e dizia que era importante juntar
tecnologia e estética.
2. Questionar
Peter Drucker fala do poder das perguntas provocativas;
"a tarefa mais importante e difícil não é achar as respostas corretas, mas
encontrar a pergunta certa".
Michael Dell se perguntou por que um computador custa 5x o
valor da soma de suas peças ? E fez uma empresa líder de mercado.
Por exemplo, a pergunta "E se fossemos proibidos de
vender para nossos clientes atuais ?" permite avaliar novos mercados.
Dizem que Darwin chegou a sua teoria da Evolução das
Espécies porque fez as perguntas certas (ver livro do Koestler).
Simulações podem ajudar. Por exemplo, pensar em como mudar o
mundo: "e se a gente fizesse isto ou aquilo, o que aconteceria ?"
(esta é a técnica do what-if).
Também podemos usar a técnica dos 5W + 1H (o que, quando,
por quem, por que, onde, como)
As técnicas de síntese e análise também são úteis. Por
exemplo, se preciso atravessar um rio, procuro materiais disponíveis ao meu
redor e penso em como eles poderiam me ajudar (síntese), ou então penso numa
solução (ponte ou rio) e procuro materiais ao meu redor que me ajudem a criar
uma das soluções pensadas (análise).
3. Observar
A curiosidade faz parte das descobertas e invenções. Pasteur
descobriu a penicilina porque foi curioso. O livro de Roberts
("Serendipity") fala da importância da observação nas descobertas
acidentais. O motor elétrico foi descoberto porque alguém notou que a peça que
gerava energia elétrica rodava se o processo fosse feito ao contrário (ou seja,
fornecer energia na ponta final).
É importante observar o dia a dia das pessoas, os problemas
simples e comuns, como as pessoas resolvem pequenos problemas. Lembra do Newton
e a maçã ?
Jobs comprou um walkman Sony para desmontá-lo e estudar como
funcionava. E daí saiu o ipod. Howard Shultz
visitou bares e cafés na Itália para criar a Starbucks.
4. Experimentar
Thomas Edison disse: "Eu não falhei; eu simplesmente
encontrei 10 mil maneiras que não funcionam". Devemos aprender com os erros
(anotar o que aconteceu, como e por que). Criar protótipos e projetos pilotos
podem ajudar a testar ideias.
5. Networking
Encontrar, falar, trocar ideias com pessoas, as mais
diferentes possíveis.
No artigo "Anatomy of an idea", Steven Johnson
fala da importância de twitter, blogs, facebook, e-mail, conversas pessoais
para que ele conseguisse concluir seus livros.
Malcolm Gladwell fala da importância dos eleitos, pessoas
que fazem a diferença na disseminação de informações (ou mesmo de doenças e
outros tipos de influências em rede). São também chamados de Formadores de
opinião (opinion leaders) ou Influenciadores. Gladwell descreve 3 tipos de
eleitos:
a) os hubs: são os que possuem muitas conexões e ajudam a
disseminar rapidamente uma ideia;
b) os experts: são vistos como autoridades num assunto e
assim suas ideias penetram melhor;
c) os vendedores: aqueles que sabem persuadir e por isto
possuem poder de convencer outros.
Max Gunther (no livro "O Fator Sorte") diz que os
eleitos aceitam estar em qualquer grupo, iniciam conversas e não recusam
convites para encontros e reuniões.
Um resumo do livro de Gunther está em
Onde encontrar os eleitos, segundo a Raper Consulting:
• Participam de almoços e jantares de negócios.
• Fazem palestras.
• Escrevem para um jornal, revista ou participar de programas
de TV.
• Fazem grandes doações para organizações.
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• Fazem reclamações.
• Participam de reuniões públicas, eventos políticos,
palestras.
• Participam de comitês.
• Fazem perguntas em encontros públicos.
• Organizam um evento social especial.
• São membros ativos de grupos ativistas.
Aral e Walker estudaram quem influencia e quem é
influenciado. Na figura abaixo, as linhas representam categorias de pessoas. As
barras horizontais podem pender para a esquerda (a pessoa tem poder de
influenciar) ou para a direita (tem mais chances de ser influenciado).
Como exemplo, podemos ver nos círculos marcados que:
a) homens são mais influenciados,
b) mulheres influenciam mais,
c) solteiros são mais influenciados,
d) bem como casados.
Coesão e entropia
A coesão de um grupo é a força das relações entre os
elementos deste grupo. Quanto maiores as forças de conexões, pressupõe-se mais
sinergia no grupo.
Por outro lado, podemos também medir a entropia do grupo.
Entropia é um conceito “emprestado” da Física, que mede a desordem
(popularmente). Quanto mais desordem, mais entropia. Menos entropia, mais
organização.
Compare as duas figuras abaixo. No quadro da esquerda,
podemos ver 2 subgrupos distintos num mesmo grupo. No quadro à direita, a
"bagunça" ou mistura é maior. Então o grupo à direita possui maior
entropia que o grupo à esquerda.
Um grupo mais coeso tende a gerar mais foco no objetivo. Mas
para conseguir diversidade de ideias (por exemplo, num brainstorming), o melhor
é ter mais entropia.
Resumo de Dicas para Melhorar o Fluxo de Ideias
1. Aumentar a diversidade (entropia) do grupo, reunindo
pessoas com diferentes perfis, background, formações, opiniões, papeis,
funções, origens.
2. Forçar a participação de todos, evitando que pessoas ou
pequenos grupos dominem discussões.
3. Utilizar brainstorming para levantar o maior número de
ideais diferentes, sem avaliá-las.
4. Utilizar a técnica dos 6 chapéus para que pessoas com
opiniões divergentes se encontrem e se manifestem, forçando a colisão de
ideias.
5. Incentivar a circulação de ideias, evitando concentração
em pessoas tipo "hub". Se possível, fazer com que cada elemento da
rede tenha aproximadamente o mesmo número de conexões. As conexões podem ser
medidas por trocas diretas entre pessoas ou por número de participações (por
exemplo, número de mensagens enviadas numa lista de discussão ou fórum).
6. Categorizar ideias para evitar repetições e permitir que
ideias semelhantes possam ser combinadas. Isto também permitirá avaliar a
entropia das ideias (com o objetivo de aumentar a diversidade das ideias).
7. Fazer um banco de ideias, categorizadas, explicadas e
descritas, para manter o histórico e permitir que ideias antigas possam ser
reutilizadas para refinar ideias mais recentes.
8. Utilizar mapas mentais ou grafos para conectar ideias. Nas
ligações, podem ser utilizados labels ou mnemônicos que justifiquem as
ligações. Veja o filme de Sherlock Holmes e observe como ele conectava
informações através de colagens e fios num quarto de sua casa.
9. Faça perguntas ao grupo, seja um "advogado do
Diabo" na discussão (5W + 2H).
10. Leve as pessoas para campo, para que observem situações
cotidianas. Faça-as descrever detalhes, principalmente aqueles mais óbvios ou
menos relatados. Muitas vezes a inovação consiste em ver o que todos viram e
ninguém notou.
Referências Bibliográficas
ARAL, Sinan; WALKER, Dylan. Identifying Influential and
Susceptible Members of
Social Networks. Science, v.337, n.6092, 20 de Julho de
2012, p.337-341.
DYER, Jeffrey
H.; GREGERSEN, Hal B.; CHRISTENSEN, Clayton M. The Innovator's DNA: Mastering
the Five Skills of Disruptive Innovators. Harvard Business Review Press, 2011.
GLADWELL, Malcolm. O ponto da virada - como pequenas coisas
podem fazer uma grande diferença (original: the tipping point). Rio de Janeiro: Sextante, 2013.
GUNTHER, Max. O Fator Sorte. Rio de Janeiro: Best Business, 2013 (original:
The luck factor, 1977).
JOHNSON,
Steven. Where good ideas come from - the natural history of innovation. New
York: Riverhead Books, 2010.
KAHNEY, Leander. A cabeça de Steve Jobs - as lições do líder da empresa
mais revolucionária do mundo. Rio de Janeiro: Agir, 2008.
KOESTLER,
Arthur. The Act of Creation - a study of the conscious and unconscious
processes in humor, scientific discovery and art. New York: Arkana (The Penguin
Group), 1964.
MARTIN, Roger
L. Opposable Mind: winning through integrative thinking. Harvard Business
Review Press, 2009.
PENTLAND,
Alex. Social Physics: How Good Ideas Spread-The Lessons from a New Science. Penguin,2014.
ROBERTS, Royson M. Serendipity: Accidental
Discoveries in Science. John Wiley & Sons, Inc., Toronto, 1989.
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