segunda-feira, 4 de maio de 2015

Como melhorar o fluxo de ideias

Muitos autores têm enfatizado a importância do fluxo de ideias dentro de equipes e organizações para apoiar a inovação, melhorar a criatividade, solucionar problemas e fazer gestão do conhecimento.

Alex Pentland (no livro "Social Physics") apresenta resultados de experimentos reais provando que uma boa rede de pessoas e interação pode aumentar inovação, empreendedorismo e retorno no investimento. Quanto maior o número de conexões e mais ativas elas forem, as ideias fluem melhor e vão se refinando. Pentland fala em resultados positivos com a tunagem (tuning) da rede, como por exemplo:
a) acrescentando incentivos para pessoas participarem mais;
b) controlando o fluxo de ideias, para evitar que a mesma ideia (sem melhoramentos) continue circulando de forma repetida;
c) controlando o fluxo de ideias para que ideias que pouco circularam possam ganhar mais chances de avaliação.

Isto corrobora com os achados de Koestler e Johnson, que confirmam a importância de amadurecer ideias e combiná-las para gerar inovações.

Dyer e outros falam da importância de 5 habilidades num inovador que servem também para ajudar pessoas em redes de cooperação e inovação e demonstram a importância do fluxo de ideias para inovações.

1.      Associatividade
Steve Jobs dizia que Criatividade é conectar coisas (ver livro de Kahney, "A cabeça de Steve Jobs"). Uma das formas de conectar ideias é explorar áreas diferentes. Jobs aproveitou seu interesse por caligrafia para fazer uma interface melhor para os primeiros computadores da Apple.

Pierre Omidyar conectou 3 ideias para criar o famoso site eBay,:
a) fascinação por criar mercados mais eficientes;
b) desejo da noiva para localizar produtos difíceis de achar;
c) ineficiência dos classificados locais.

Por isto tudo, é importante estender domínios e conhecimentos. A diversidade aumenta possibilidades, pois inclui mais conhecimento e gera mais alternativas de soluções. Alex Pentland e Max Gunther falam da importância da diversidade para negócios e fluxo de ideias. Um grupo de trabalho precisa ser multidisciplinar, com pessoas trazendo conhecimentos diferentes e talvez até pensando diferente.

Roger Marting (no livro "The Opposable Mind") descreve pessoas criativas como aquelas que possuem ideias conflitantes. Isto funciona como a Dialética, onde uma 3a ideia surge a partir de 2 ideias que colidem. Johnson também confirma a importância de "colidir ideias" para combiná-las.

Pentland fala da importância dos que contrariam, para evitar que o fluxo siga sempre para o mesmo lado sem refinamento de ideias. Segundo Nelson Rodrigues, o consenso é burro. A técnica de brainstorming é muito adequada nestes casos porque é possível levantar alternativas sem pensar em viabilidade e sem fazer críticas. A combinação de ideias muito diferentes gera soluções diferentes, o que possibilita combinar as soluções ou avaliar uma ampla maior de soluções possíveis.

Veja o comercial da Apple sobre "pensar diferente" (clique aqui).

A famosa técnica dos 6 chapéus para discussões em grupos (ou para formação de grupos de trabalho) diz que precisamos ter opostos discutindo. Uma pessoa pessimista deve contrapor um otimista. Se só houver otimistas, ninguém pensará em problemas futuros. Se só houver pessimistas, o objetivo nunca será alcançado. A contraposição de ideias deve equilibrar as forças. Por isto o famoso papel de "Advogado do Diabo" nas discussões é muito importante. Os outros chapéus incluem contrapor alguém que usa sentimentos e intuições com outro que só decide baseado em números e fatos. Assim também alguém muito organizado e sistemático deve contrapor uma pessoa muito imaginativa e sonhadora.

É por isto que executivos fazem cursos de 6 mil dólares para aprender a subir em árvores e descer rios em botes (rafting). Porque precisam aprender novas formas de tomar decisões, de ligar neurônios e gerar novas ideias. Também ajuda fazer atividades diferentes. Se você trabalha num escritório, faça dança, música, teatro ou escultura. E juntar arte com negócios dá bons resultados. Jobs estudou artes e dizia que era importante juntar tecnologia e estética.


2.      Questionar
Peter Drucker fala do poder das perguntas provocativas; "a tarefa mais importante e difícil não é achar as respostas corretas, mas encontrar a pergunta certa".
Michael Dell se perguntou por que um computador custa 5x o valor da soma de suas peças ? E fez uma empresa líder de mercado.
Por exemplo, a pergunta "E se fossemos proibidos de vender para nossos clientes atuais ?" permite avaliar novos mercados.

Dizem que Darwin chegou a sua teoria da Evolução das Espécies porque fez as perguntas certas (ver livro do Koestler).

Simulações podem ajudar. Por exemplo, pensar em como mudar o mundo: "e se a gente fizesse isto ou aquilo, o que aconteceria ?" (esta é a técnica do what-if).

Também podemos usar a técnica dos 5W + 1H (o que, quando, por quem, por que, onde, como)

As técnicas de síntese e análise também são úteis. Por exemplo, se preciso atravessar um rio, procuro materiais disponíveis ao meu redor e penso em como eles poderiam me ajudar (síntese), ou então penso numa solução (ponte ou rio) e procuro materiais ao meu redor que me ajudem a criar uma das soluções pensadas (análise).


3.      Observar
A curiosidade faz parte das descobertas e invenções. Pasteur descobriu a penicilina porque foi curioso. O livro de Roberts ("Serendipity") fala da importância da observação nas descobertas acidentais. O motor elétrico foi descoberto porque alguém notou que a peça que gerava energia elétrica rodava se o processo fosse feito ao contrário (ou seja, fornecer energia na ponta final).

É importante observar o dia a dia das pessoas, os problemas simples e comuns, como as pessoas resolvem pequenos problemas. Lembra do Newton e a maçã ?

Jobs comprou um walkman Sony para desmontá-lo e estudar como funcionava. E daí saiu o ipod.  Howard Shultz visitou bares e cafés na Itália para criar a Starbucks.


4.      Experimentar
Thomas Edison disse: "Eu não falhei; eu simplesmente encontrei 10 mil maneiras que não funcionam". Devemos aprender com os erros (anotar o que aconteceu, como e por que). Criar protótipos e projetos pilotos podem ajudar a testar ideias.


5.      Networking
Encontrar, falar, trocar ideias com pessoas, as mais diferentes possíveis.
No artigo "Anatomy of an idea", Steven Johnson fala da importância de twitter, blogs, facebook, e-mail, conversas pessoais para que ele conseguisse concluir seus livros.

Malcolm Gladwell fala da importância dos eleitos, pessoas que fazem a diferença na disseminação de informações (ou mesmo de doenças e outros tipos de influências em rede). São também chamados de Formadores de opinião (opinion leaders) ou Influenciadores. Gladwell descreve 3 tipos de eleitos:
a) os hubs: são os que possuem muitas conexões e ajudam a disseminar rapidamente uma ideia;
b) os experts: são vistos como autoridades num assunto e assim suas ideias penetram melhor;
c) os vendedores: aqueles que sabem persuadir e por isto possuem poder de convencer outros.

Max Gunther (no livro "O Fator Sorte") diz que os eleitos aceitam estar em qualquer grupo, iniciam conversas e não recusam convites para encontros e reuniões.
Um resumo do livro de Gunther está em


Onde encontrar os eleitos, segundo a Raper Consulting:
• Participam de almoços e jantares de negócios.
• Fazem palestras.
• Escrevem para um jornal, revista ou participar de programas
de TV.
• Fazem grandes doações para organizações.
90
• Fazem reclamações.
• Participam de reuniões públicas, eventos políticos, palestras.
• Participam de comitês.
• Fazem perguntas em encontros públicos.
• Organizam um evento social especial.
• São membros ativos de grupos ativistas.


Aral e Walker estudaram quem influencia e quem é influenciado. Na figura abaixo, as linhas representam categorias de pessoas. As barras horizontais podem pender para a esquerda (a pessoa tem poder de influenciar) ou para a direita (tem mais chances de ser influenciado).




Como exemplo, podemos ver nos círculos marcados que:
a) homens são mais influenciados,
b) mulheres influenciam mais,
c) solteiros são mais influenciados,
d) bem como casados.


Coesão e entropia


A coesão de um grupo é a força das relações entre os elementos deste grupo. Quanto maiores as forças de conexões, pressupõe-se mais sinergia no grupo.

Por outro lado, podemos também medir a entropia do grupo. Entropia é um conceito “emprestado” da Física, que mede a desordem (popularmente). Quanto mais desordem, mais entropia. Menos entropia, mais organização.

Compare as duas figuras abaixo. No quadro da esquerda, podemos ver 2 subgrupos distintos num mesmo grupo. No quadro à direita, a "bagunça" ou mistura é maior. Então o grupo à direita possui maior entropia que o grupo à esquerda.





Um grupo mais coeso tende a gerar mais foco no objetivo. Mas para conseguir diversidade de ideias (por exemplo, num brainstorming), o melhor é ter mais entropia.


Resumo de Dicas para Melhorar o Fluxo de Ideias


1. Aumentar a diversidade (entropia) do grupo, reunindo pessoas com diferentes perfis, background, formações, opiniões, papeis, funções, origens.

2. Forçar a participação de todos, evitando que pessoas ou pequenos grupos dominem discussões.

3. Utilizar brainstorming para levantar o maior número de ideais diferentes, sem avaliá-las.

4. Utilizar a técnica dos 6 chapéus para que pessoas com opiniões divergentes se encontrem e se manifestem, forçando a colisão de ideias.

5. Incentivar a circulação de ideias, evitando concentração em pessoas tipo "hub". Se possível, fazer com que cada elemento da rede tenha aproximadamente o mesmo número de conexões. As conexões podem ser medidas por trocas diretas entre pessoas ou por número de participações (por exemplo, número de mensagens enviadas numa lista de discussão ou fórum).

6. Categorizar ideias para evitar repetições e permitir que ideias semelhantes possam ser combinadas. Isto também permitirá avaliar a entropia das ideias (com o objetivo de aumentar a diversidade das ideias).

7. Fazer um banco de ideias, categorizadas, explicadas e descritas, para manter o histórico e permitir que ideias antigas possam ser reutilizadas para refinar ideias mais recentes.

8. Utilizar mapas mentais ou grafos para conectar ideias. Nas ligações, podem ser utilizados labels ou mnemônicos que justifiquem as ligações. Veja o filme de Sherlock Holmes e observe como ele conectava informações através de colagens e fios num quarto de sua casa.

9. Faça perguntas ao grupo, seja um "advogado do Diabo" na discussão (5W + 2H).

10. Leve as pessoas para campo, para que observem situações cotidianas. Faça-as descrever detalhes, principalmente aqueles mais óbvios ou menos relatados. Muitas vezes a inovação consiste em ver o que todos viram e ninguém notou.


Referências Bibliográficas


ARAL, Sinan; WALKER, Dylan. Identifying Influential and Susceptible Members of
Social Networks. Science, v.337, n.6092, 20 de Julho de 2012, p.337-341.

DYER, Jeffrey H.; GREGERSEN, Hal B.; CHRISTENSEN, Clayton M. The Innovator's DNA: Mastering the Five Skills of Disruptive Innovators. Harvard Business Review Press, 2011.

GLADWELL, Malcolm. O ponto da virada - como pequenas coisas podem fazer uma grande diferença (original: the tipping point). Rio de Janeiro: Sextante, 2013.

GUNTHER, Max. O Fator Sorte. Rio de Janeiro: Best Business, 2013 (original: The luck factor, 1977).

JOHNSON, Steven. Where good ideas come from - the natural history of innovation. New York: Riverhead Books, 2010.

KAHNEY, Leander. A cabeça de Steve Jobs - as lições do líder da empresa mais revolucionária do mundo. Rio de Janeiro: Agir, 2008.

KOESTLER, Arthur. The Act of Creation - a study of the conscious and unconscious processes in humor, scientific discovery and art. New York: Arkana (The Penguin Group), 1964.

MARTIN, Roger L. Opposable Mind: winning through integrative thinking. Harvard Business Review Press, 2009.

PENTLAND, Alex. Social Physics: How Good Ideas Spread-The Lessons from a New Science. Penguin,2014.


ROBERTS, Royson M. Serendipity: Accidental Discoveries in Science. John Wiley & Sons, Inc., Toronto, 1989.

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