A ideia de que algo feito por várias pessoas tende a ser
melhor do que se fosse feito por apenas uma não é nova e virou dito popular. Em
“Politics”, Aristóteles defendeu uma forma de democracia referenciada como
“sabedoria das massas”: “Cada indivíduo
será pior juiz que os especialistas, mas quando todos trabalham juntos, eles
são melhores ou no mínimo iguais (com desempenho semelhante)”.
Surowiecki (2004) comenta diversos casos (não comprovados
cientificamente) onde a coletividade suplanta os resultados de indivíduos. Há o
caso de um experimento simples durante uma palestra, em que a plateia consegue
acertar as medidas de uma pessoa. Cada pessoa sugere valores com base em sua
intuição ou experiência, e a média das suposições gera erro zero. Surowiecki
avaliou diversas situações num jogo de auditório tipo Quiz, nos EUA, semelhante
ao Show do Milhão aqui no Brasil. Os especialistas (“universitários”) estavam corretos
em 65% dos casos enquanto que a plateia (pela escolha da maioria) estava correta
em 91% dos casos, sem comunicação entre eles.
A partir disto, Surowiecki utilizou o termo Sabedoria das
Massas ou Multidões (Wisdom of Crowds), para explicar este fenômeno. Segundo
este conceito, a opinião da maioria das pessoas leva ao que é correto ou ao
melhor caminho. Surowiecki acredita que a maioria poderia acertar o número de
feijões numa caixa, sem contagem prévia; bastaria utilizar a média de todos os
valores fornecidos individualmente por cada elemento do grupo. Sob certas
circunstâncias, grupos são mais inteligentes do que os indivíduos mais
inteligentes agindo sozinhos. Quando nossos julgamentos imperfeitos são
agregados do modo certo, nossa inteligência coletiva é frequentemente
excelente. Os erros acontecem em todas as direções e um neutraliza o outro.
Miller (2007), na reportagem de capa da National Geographic,
comenta diversos casos de animais que, seguindo apenas regras simples,
conseguem sobreviver em bandos, encontrando comida e fugindo de inimigos, o que
não conseguiriam se estivessem sozinhos. Ele comenta o caso das renas fugindo
de lobos. A rena mais próxima do lobo, corre quando avista o inimigo. As
outras, ao ver alguém correr, correm também (sem saber motivo, sem saber para
onde). Cada uma corre para um lado, em direções contrárias e diversas, sem
coordenação e sem aviso central. Com isto, o lobo não sabe a quem seguir e fica
confuso, acabando por não conseguir capturar nenhuma vítima.
Outro termo utilizado com significado semelhante é
"Inteligência Coletiva", proposto por Pierre Lévy. Ele tem sido usado
em diferentes aplicações, mas sempre tendo em comum a ideia de que “o todo é
mais que a mera soma das partes”, ou seja, várias partes integradas podem
realizar um objetivo que nenhuma parte conseguiria em separado (Lévy, 1998). Este
também é o fundamento do conceito de Sinergia, da Teoria Geral de Sistemas. Por
exemplo, a molécula de água (H2O) é formada por dois átomos de Hidrogênio e um
átomo de Oxigênio. Hidrogênio e Oxigênio são gasosos em seu estado natural; se
olharmos somente as partes, tenderemos a acreditar erroneamente que o estado
natural da água é gasoso. A ideia de Sinergia é que elementos em conjunto podem
fazer mais que cada um em separado se estiverem atuando de forma integrada
(exemplo: mover uma pedra).
Premissas para Sabedoria ou Inteligência das Multidões
1. Diversidade
de opiniões: cada um sabe uma parte do todo e um complementa o outro;
2. Independência:
opiniões individuais não devem ser influenciadas por outras opiniões;
3. Descentralização:
experiências locais (individuais) ajudam no contexto global;
4. Agregação:
deve haver um mecanismo para juntar as decisões individuais numa decisão
coletiva.
Wolpert and Tumer (1999) veem 4 características principais
num sistema de inteligência coletiva:
1. Há vários
agentes (ou processadores) atuando de forma concorrente, realizando ações que
afetam os demais;
2. Há pouca ou
nenhuma comunicação centralizada, sendo que cada agente se comunica com alguns
poucos agentes, de formas diferentes;
3. Há pouco ou
nenhum controle centralizado, sendo que cada agente controle ou influencia
outros agentes de formas diferentes, mas não há um agente central controlador
de todo o sistema;
4. Existe um
objetivo bem especificado, que é o foco do comportamento de todo o sistema.
Inteligência em Insetos Sociais
Outro caso de inteligência coletiva em formigas é a chamada
"stigmergia", a comunicação indireta via ambiente. As formigas seguem
feromônios deixados (não intencionalmente) por outras formigas para encontrar
comida (Moura e Pereira, 2003). É o mesmo caso de pessoas que entram numa
floresta e seguem o caminho mais "pisado" ou com árvores e galhos
derrubados para encontrar uma saída.
Auto-organização
Miller (2007) comenta o exemplo de formigas que conseguem
definir o número suficiente de indivíduos para encontrar e trazer comida ao
formigueiro (uma espécie de equilíbrio para atingir o objetivo geral.
Outro exemplo de auto-organização é encontrado nas abelhas.
Elas utilizam um espécie de votação para decidir o melhor lugar para um nova
colmeia e sem nenhum tipo de controle central (a Rainha não interfere). Quando
um grupo de 15 abelhas se reúne ao redor de um lugar, é porque o lugar já foi
escolhido (Miller, 2007). As abelhas também usam a coletividade e a troca de
informações para decidir qual a melhor fonte de néctar. Elas viajam até 10 km longe da colmeia para
coletar néctar e retornam com informações sobre a fonte de néctar (direção,
distância e qualidade da fonte de néctar). Elas utilizam a dança para recrutar
novas abelhas para aquela fonte (Camazine et al, 2003).
Handl e Meyer (2007) citam o experimento com agrupamento de
resíduos feito por formigas (Ant-based clustering). Num local onde há resíduos de
corpos, de larvas e de areia misturados, as formigas conseguem organizar a
"bagunça" agrupando os resíduos corretamente. Elas fazem isto
observando o que as outras estão fazendo. No início, o processo é aleatório, com
as formigas colocando as partes em qualquer lugar. Mas a observação dos
indivíduos próximos ajusta o resultado, e as formigas vão juntando partes
semelhantes em pequenas pilhas e corrigindo eventuais enganos.
O interessante na auto-organização destes animais é que cada
um sabe o que tem que fazer e qual é o objetivo comum. Se todos atingirem seus
objetivos individuais, o objetivo do grupo será atingido.
A Inteligência Coletiva está fortemente calcada no
fundamento de que cada indivíduo só tem parte do conhecimento e a inteligência
está distribuída entre os elementos do grupo. Este é também o princípio dos
sistemas multiagente inteligentes da Inteligência Artificial. Imagine alguém
tentando controlar o trânsito em uma grande cidade. Não há como olhar todas os
cruzamentos, mesmo numa sala central com diversas câmeras. Pior ainda tenta
sincronizá-las. Mas se cada sinaleira for inteligente o suficiente para saber
se há carros passando em cada direção e qual a velocidade (através de
sensores), ela poderá comunicar-se com outras sinaleiras e trocar informações.
Assim, poderá manter uma direção aberta por mais tempo, se há carros vindo em
sua direção e se não há engarrafamento mais adiante. Ou poderá segurar o
tráfego em caso contrário. Poderá até mesmo indicar desvios por ruas menos
movimentadas, caso receba tal informação de outras sinaleiras.
Avaliação de confiabilidade de fontes de informação
Certa vez, eu fiz um experimento. Desejando saber a idade
com que Getúlio Vargas morreu, fui para a Web. Em vários locais (a maioria), havia a data de falecimento em
24/08/1954. O Globo Online falava em “A morte de Getúlio Vargas: 23/08/2004”.
Sobre o nascimento, encontrei várias divergências. No site
do Partido Democrático Trabalhista (PDT), havia a seguinte informação:
1883-1954. No Yahoo Answers, alguém colocou: 19/04/1882. No site do Objetivo
(roteiro para estudos), 19/04/1883. No site do Senado, 19/04/1882. A maioria
apontava a data de nascimento como 19/04/1882.
Se eu tivesse que responder esta questão numa prova, eu
seguiria a maioria.
Aí confirmei a minha impressão na Wikipedia, onde encontrei
as seguintes informações:
–
Nascimento: São Borja, 19 de abril de 1882.
–
Morte: Rio de Janeiro, 24 de agosto de 1954.
O Google usa um raciocínio parecido para determinar quais os
sites mais importantes sobre um tema (e colocá-los no topo dos resultados
orgânicos de buscas). As páginas mais apontadas vão para o topo do ranking,
pois são consideradas as autoridades no assunto, uma vez que outras páginas
sobre o mesmo assunto apontam para elas.
Crossan (1994) utilizou uma metodologia semelhante na sua
tese e livro sobre “O Jesus Histórico”. Para determinar se um fato descrito
sobre Jesus era verdadeiro, ele verificava se o fato tinha sido comentado em
duas ou mais fontes independentes.
Web 2.0
Apesar das críticas de alguns autores com relação ao
significado do termo, a Web 2.0 é sinônimo de colaboração entre pessoas. Muitos
sites modernos permitem a construção coletiva do seu conteúdo (Wikipedia,
Wikimapia, Flickr, Delicious, etc.). Os defensores acreditam que a construção
de conteúdos baseada na colaboração pode gerar conteúdos de maior qualidade
além de quantidade em pouco tempo (produtividade).
Em 2005, a revista Nature publicou um artigo comprovando que
a Wikipedia tem qualidade semelhante à da Enciclopédia Britânica (Giles, 2005).
Simulação social e Comportamento de Multidões
Em geral então, as pessoas procuram diminuir a incerteza das
decisões mas assumem certos riscos pela racionalidade limitada. Por exemplo, se
alguém quiser traçar uma rota de fuga em caso de incêndio num prédio, talvez
não consiga avaliar todas as alternativas possíveis (local de início do fogo,
quantidade de pessoas, etc.). E no momento da situação de incêndio, o ser
humano tem que simplificar ao máximo seu processo de decisão para acelerar as
ações. Isto quer dizer que os planos iniciais podem ter sido esquecidos ou
terão que ser simplificados. E assim, as atitudes planejadas mudam pela
racionalidade limitada. E o ser humano se torna imprevisível.
Neste caso, observar o que a maioria está fazendo, pode ser
uma maneira de obter produtividade. Muitas pessoas já conseguiram sair de
engarrafamentos simplesmente seguindo um grupo de carros por atalhos
desconhecidos. Isto não significa que funcione sempre.
Em outros casos, as pessoas podem pensar que é melhor não
seguir a maioria. Por exemplo, num engarrafamento, pode-se pensar em pegar um
atalho diferente se todos estão indo por um atalho muito conhecido (que poderá
engarrafar também). Nas grandes rodovias pedagiadas, a escolha da cabine de
pedágio pode ser assim: as pessoas tendem a se aproximar pelas filas do meio
para poder selecionar uma fila menor quando chegarem perto pela observação. As
pessoas pensam que, se estiverem na ponta, talvez só possam selecionar uma ou
duas cabines ou à esquerda ou à direita, enquanto que chegando pelo meio podem
selecionar uma ou duas tanto de um lado quanto de outro, dobrando as
possibilidades. Isto faz com que as filas das cabines do meio fiquem maiores.
Uma boa escolha seria chegar por uma das pontas, onde as filas estão menores.
Por esta razão, há pessoas planejando o design de locais públicos não pelo estabelecimento de regras ou
considerando uma coordenação centralizada, mas simplesmente observando o
comportamento das multidões quando atitudes aleatórias e descoordenadas
acontecem. Numa situação de incêndio, informações vindas de uma coordenação
local não serão ouvidas e talvez nem mesmo os avisos luminosos sejam
percebidos.
A entrada e saída de multidões em eventos públicos deve ser
pensada como um evento complexo onde pessoas com racionalidade limitada e
atitudes diversas agem (como as renas fugindo dos lobos). Dizem que o Coliseu
de Roma original, com capacidade para 50 mil pessoas, podia ser evacuado em 3
minutos devido a sua estrutura bem planejada. E naquela época não havia
microfones, alto-falantes e avisos luminosos.
Além disto, a ação de uma pessoa acaba por influenciar a
decisão dos que estão próximos. Isto pode modificar o comportamento dos outros,
que podem imitar ou fazer algo bem diferente. Por vezes, algumas decisões de
pessoas pensando no benefício próprio e único podem prejudicar ainda mais o
sistema. Tomar decisões de forma independente, talvez não seja a melhor
alternativa, conforme a teoria do Equilíbrio de John Nash. Talvez a melhor
alternativa para todos seja cada um “perder” um pouco de algo para todos “ganharem”.
As técnicas relativas à Teoria dos Jogos ajudam a entender os resultados nestes
tipos de sistemas complexos.
Crowdsourcing
As etapas do Crowdsourcing são:
1.
Postar um problema no meio público;
2.
Receber sugestões de soluções vindas de diversos
indivíduos;
3.
Recompensar algumas ideias;
4.
Utilizar as ideias para benefício da empresa.
É diferente de Open Innovation, que é feito de forma mais
organizada e entre empresas.
Memes
Para Dawkins, o meme é para a memória o análogo do gene na
genética. É uma unidade de informação que se multiplica de cérebro em cérebro,
ou entre locais onde a informação é armazenada (como livros.
O meme é o meio como a Sabedoria das Massas se difunde (e pode
auto-propagar-se), contagiando outras pessoas. Podem ser ideias ou partes de
ideias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores estéticos e morais, ou
qualquer outra coisa que possa ser aprendida facilmente e transmitida enquanto
unidade autônoma. A Memética é a área que estuda os modelos evolutivos da
transferência de memes.
Alstott e parceiros (2013) publicaram um artigo onde
investigam a velocidade das mobilizações feitas por redes sociais, chegando a
conclusões sobre o que influencia (país de origem, sexo de quem posta e de quem
recebe, idade, etc.).
Os fenômenos conhecidos como Flash MOB e as manifestações
populares pelo mundo todo no ano de 2013 são organizados através da Internet,
pela difusão viral, de uma pessoa para outra. As facilidades das redes sociais
para encontrar amigos antigos, criar novos relacionamentos virtuais e disseminar
informação aceleram as mobilizações.
"O que muda
atualmente é que os cidadãos têm um instrumento próprio de informação,
auto-organização e automobilização que não existia. Antes, se estavam
descontentes, a única coisa que podiam fazer era ir diretamente para uma
manifestação de massa organizada por partidos e sindicatos, que logo negociavam
em nome das pessoas. Mas, agora, a capacidade de auto-organização é espontânea.
Isso é novo e isso são as redes sociais. E o virtual sempre acaba no espaço
público. Essa é a novidade. Sem depender das organizações, a sociedade tem a
capacidade de se organizar, debater e intervir no espaço público." (Manuel
Castells)
Há o lado bom disto tudo, mas tais ferramentas também podem
acelerar erros como a difamação e o julgamento precipitado de pessoas.
Query mining e outras aplicações
–
o número médio de consultas por sessão é de 4,86;
–
usuários utilizam de 2 a 3 termos na consulta
(média de termos por consulta = 2,7);
–
52% das consultas em mecanismos de busca são
reformuladas;
–
32,5% das consultas modificadas sofreram
alterações nos termos submetidos, mas não no número total de termos;
–
41,6% das consultas modificadas incluíram termos
novos;
–
25,9% das consultas modificadas excluíram termos.
Facebook, Twitter, Yahoo e Google também utilizam análises
estatísticas sobre consultas, links mais clicados, postagens mais difundidas,
etc. Isto permite fazer melhores recomendações, melhorar o ranking de
resultados a consultas, sugerir termos, etc. O Yahoo analisa os links mais
clicados para descobrir consultas semelhantes, encontrar definições de
conceitos, identificar sinônimos e tags (descritores de páginas) e até mesmo
para analisar a Economia de um país. Há vários trabalhos de Baeza-Yates
descrevendo tais estudos.
As sugestões de correções ortográficas do Google também usam
princípios semelhantes. E mesmo nós, se estamos em dúvida sobre duas formas de
escrita de uma palavra, consideramos como certa aquela que é usada por mais
pessoas (basta colocar as formas divergentes como busca no Google e verificar
quantas páginas há com cada palavra). Até para nomes próprios isto funciona. Há
também tradutores automáticos baseados em estatística e não em análise
linguística. Eles comparam textos originais com traduções feitas por pessoas e
utilizam como traduções para um trecho de frase original, os trechos que mais
aparecem nas traduções.
O Google Scribe é capaz de escrever um texto sozinho,
somente pela análise estatística da sequência de palavras. Usando redes de
Markov, o Google mapeou a probabilidade de palavras seguirem outras. Assim, se
você iniciar uma frase em inglês com uma palavra, ele sugere por probabilidade
qual a próxima a ser usada. É também o mesmo procedimento na escrita de
celulares e o que ajuda o físico Stephen Hawking a montar suas frases
rapidamente, já que não pode digitar nem falar.
Os filtros de spam também usam a Sabedoria das Massas para
identificar o que é spam. Por isto é importante o botão "reportar
spam" nos serviços de Webmail.
Prever futuro ou Entender presente
A análise de redes
sociais virou uma maneira fácil de observar as multidões. Um artigo de 2011
(Bollen et al.), conseguiu provar a correlação entre o tipo de humor nas
postagens do twitter e o índice Dow Jones da bolsa de valores americana. Outros
artigos provaram ser possível prever receitas de filmes, aumento no número de
turismo e mesmo prever eventos futuros analisando postagens ou buscas (Asur et
al. 2010; Mishne, 2006; Radinsky & Horvitz, 2013; Choi & Varian, 2012).
A grande aplicação da Sabedoria das Massas ou Inteligência
Coletiva é que os indivíduos conseguem repetir o que já foi feito de bom pela
coletividade e evitam o que foi feito de errado. E isto pressupõe que as
próximas decisões serão melhores.
Dúvidas sobre a Sabedoria das Massas
Sabedoria das Massas também não é consenso. Nelson Rodrigues
dizia que “o consenso é burro”. Se todos pensarem igual, não teremos muitos
avanços científicos. A dialética era uma técnica importante para a evolução
filosófica dos gregos antigos. Steven Johnson constatou que é preciso haver
colisão de ideias para que inovações aconteçam. Cada pessoa só possui uma parte
da ideia completa. Por isto, salas de cafés e comunicações por tecnologias de redes
podem acelerar o encontro das partes para formar uma ideia melhor, mais
completa.
A troca de informações pode acelerar o que a Sabedoria das
Massas já proporciona. Ela aumenta o conhecimento individual e consequentemente
o conhecimento coletivo (pela colaboração ou cooperação). Decisões coletivas devem
gerar resultados melhores que decisões individuais. Por exemplo, foi feito um
experimento com diversos grupos de pesquisa para "quebra' de uma chave criptográfica.
Cada grupo separado só conseguia descobrir até X bits e a quebra de 1 bit
adicional começou a demorar muito. Depois que os grupos puderam trocar informações,
a quebra de 1 bit adicional ficou mais rápida e conseguiram chegar ao resultado
final.
“A voz do povo é a voz de Deus” ? Será ? Há diversas teorias
sobre Democracia, defendendo o que funciona e o que não funciona. Alguns falam
na Sabedorias das Elites, ou seja, que alguns grupos com poder maior poderiam
favorecer seus interesses, influenciando as massas. Além disto, alguns autores apontam
que decisões em grupo tendem a deixar as pessoas mais extremistas em seus
pontos de vista.
E há quem fale na Tolice das Massas ((Foolishness of Crowds; Folly
of Crowds), para explicar fenômenos como a caça às bruxas na Idade Média e a ascensão
de Hitler. Em 1841, Charles Mackay escreveu um livro sobre o assunto: "Extraordinary
Popular Delusions and the Madness of Crowds". Nestes casos, pode nem haver
manipulação de um Big Brother que centraliza as decisões ou tudo vê.
O famoso experimento com macacos representa bem o
comportamento que humanos também podem ter, condicionados pelo meio e pelas
multidões. Um grupo de 5 macacos foi enclausurado numa jaula. Num lugar alto,
colocavam comida. Quando algum macaco tentava pegar a comida, todos levavam
choque. Depois de um tempo, os macacos aprenderam que não deviam tentar subir
para pegar comida, mesmo estando com fome. Quando um tentava pegar comida, os
outros batiam neste mesmo sem levar choque. Aí trocaram um macaco. O novo não
sabia da história e tentava pegar comida. Nisto, os "antigos" macacos
batiam nele (mas o choque não era dado). Mais um foi trocado e o mesmo
acontecia. Depois de um tempo, todos os 5 macacos originais haviam sido trocados.
Os 5 restantes seguiam a mesma regra, de bater em quem tentava pegar comida,
mesmo nunca tendo recebido o choque. E faziam sem saber por quê.
Irving Janis (1972) discute a pressão do grupo sobre o
indivíduo, através da sua teoria conhecida como "Groupthinking". A pressão para um grupo chegar rapidamente a
uma decisão de consenso é tamanha que inibe indivíduos de se manifestarem com
dúvidas ou opiniões contrárias. Então o indivíduo acaba concordando para evitar
conflitos ou mesmo para não ser considerado ridículo. Isto faz com que grupos
tomem decisões precipitadas ou irracionais, sem que haja uma avaliação mais
profunda da situação. A moda e o bullying
na escola são expressões deste tipo de comportamento.
As loucuras que acontecem nos
mercados econômicos e nas bolsas de valores também são resultados dos comportamentos
complexos das multidões. Muitas vezes não há uma explicação lógica para a
correria de venda ou compra nos mercados. Simples boatos podem se difundir
rapidamente e levantar medo na população, gerando comportamentos ilógicos de
indivíduos e levando as massas para direções inesperadas.
Carolina Bezerra fala do fenômeno conhecido
como "lock-in", que explica o aprisionamento a uma tecnologia devido
à sua maior difusão (uso pela maioria) apesar de existir algo melhor. Foi assim
com o teclado tipo QWERTY, foi assim que a tecnologia VHS suplantou Betamax e
razão também porque o Google comprou o Youtube mesmo tendo o Google Vídeos.
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