O ser humano
começou criando coisas por necessidade. Foi assim que evoluiu a roda, as
ferramentas, agricultura, caça, armas, etc. Mas os desenhos nas rochas não eram
de primeira necessidade. Os gregos criaram a literatura e o teatro para passar
o tempo, pois não trabalhavam (apenas escravos trabalhavam para produzi o
sustento da sociedade). Fizemos porque queríamos, porque acreditavam nossos
antepassados que aquilo era importante de alguma forma.
A 1a Fase da Era
da Informação (ou Era do Conhecimento) acelerou o desenvolvimento da tecnologia
da informação e as conexões em redes globais, gerando grande aumento de
produtividade. Hoje, estamos vivendo a 2a fase desta Era, caracterizada por
inovações que visem o bem-estar das pessoas.
Steve Jobs corrobora afirmando que a
era da produtividade começou em torno de 1980, com a invenção da planilha, do
processamento de textos e da editoração eletrônica. Em meados dos anos 1990,
começou a era da Internet. Hoje, estamos vivendo uma nova era: a do estilo de
vida digital, impulsionada pela explosão de dispositivos digitais para bem
estar pessoal, como telefones celulares, DVD players e câmeras digitais. Foi
assim que a Apple reinventou a forma como ouvimos música, vemos vídeos e nos
comunicamos com amigos.
Himanen acredita
que a o foco agora são assuntos sociais. As inovações deslocam-se das
tecnologias que visem produtividade para inovações em cultura (música,
televisão, cinema, jogos, literatura, aprendizagem) e biotecnologia (medicina,
longevidade).
O bem-estar pode
ser conseguido por invenções que satisfaçam necessidades ou que alimentem o desejo.
Uma das coisas que nos distingue de outros animais é que criamos coisas pela
simples vontade de criar, porque temos como instinto impulsos criadores e não
precisamos fazer as coisas por necessidade.
A conquista do Oeste Americano e a descoberta do Novo Mundo
por espanhóis e portugueses foi por necessidade ou por desejo ? Talvez a
necessidade de expansão tenha sido um fator motivador, mas certamente acima
disto havia o desejo. E o desejo geralmente é individual. Charles Darwin não
pesquisou a evolução das espécies porque a Sociedade precisava disto ou porque
foi "mandado" pelo Estado. Ele foi impelido por desejo próprio, seja
qual for a recompensa que vislumbrasse.
Adam Smith acreditava que o egoísmo das pessoas faria um
mundo melhor. Ele procurou demonstrar que a riqueza das nações resultava da
atuação de indivíduos que, movidos também (mas não exclusivamente) pelo seu
próprio interesse, promoviam o crescimento econômico e a inovação tecnológica. "Assim,
o mercador ou comerciante, movido apenas pelo seu próprio interesse egoísta
(self-interest), é levado por uma mão invisível a promover algo que nunca fez
parte do interesse dele: o bem-estar da sociedade." O empresário procura
lucro mas gera como consequência ganhos para a Sociedade.
Schumpeter dizia, na metade do século passado, que tal
fenômeno (conhecido como Processo de Destruição Criativa) era o motor do
capitalismo. "As inovações revolucionam a estrutura econômica a partir de
dentro, incessantemente destruindo a velha, incessantemente criando uma nova."
Uma das fontes de inovação é a aspiração de tornar tudo obsoleto
mais rápido possível. Este é o lema da Microsoft. Mas a ideia não veio deles.
Os americanos há muito tempo atrás definiram que a única forma de a economia do
país crescer era através do consumo. E para estimular o consumo, é preciso
marketing (incluindo propaganda mas não só isto) e tornar os produtos obsoletos
rapidamente. Este foi o pensamento que fez os EUA se reerguerem rapidamente
após o crash da bolsa em 1929. O
próprio governo consome para estimular ou regular mercados (em todos os países).
Há dois tipos de obsolescências, a planejada e a percebida.
A Obsolescência Planejada ocorre quando as empresas planejam
tornar os produtos inúteis depois de um tempo. Isto acontece porque o novo não
é compatível com o velho. Acabamos ficando com produtos cujo único destino é o
lixo, porque não funcionam mais com os novos padrões. Em casa, tenho vários
aparelhos celulares velhos e seus carregadores de bateria. Os aparelhos são de
tecnologias que não se usam mais para comunicação (por nenhuma operadora) e os
carregadores antigos não podem mais ser usados com os aparelhos novos.
A Obsolescência Percebida acontece quando as próprias
pessoas se estimulam a fazer a mudança do velho pelo novo, observando o
comportamento das demais pessoas. É o caso da moda. Tempos atrás escrevi um
post no meu blog discutindo a necessidade (se é que existe) de estarmos sempre
atualizados com a última geração de tecnologia.
O grande
representante da inovação por desejo foi Steve Jobs. Ele criou gadgets que as
pessoas não precisavam ... até conhecerem tais engenhocas. Há uma piada que diz
que "a Informática surgiu para resolver problemas que não existiam antes
dela".
Que impulso é
este que nos leva a querer sempre o novo ? Por que somos impelidos a querer um
controle remoto para não precisar levantar do sofá e estamos dispostos a
trabalhar mais para ter isto ? Por que não podemos viver no passado ? Por que
não admitimos voltar ao tempo das cavernas ?
De vez em
quando, o impulso do novo, das mudanças, é equilibrado por desejos retrôs (vintage, para usar o termo da moda). Mas
o velho volta remodelado, refeito, reinventado. Revisitamos o passado, para fazer
melhor, para recriá-lo. Se não podemos refazer a história, então faremos um
futuro como queremos (e melhor ?).
Lamark acreditava
que os seres vivos evoluíam pela teoria do uso-desuso. Órgãos que são muito
usados, desenvolvem-se e se tornam melhores. Se um órgão não é utilizado, ele
atrofia até desaparecer. E isto seria passado de geração a geração. Tal teoria
veio abaixo com as descobertas de Gregor Mendel e a teoria evolucionismo de
Charles Darwin, segundo a qual há um processo de seleção natural que inclusive
gera novas espécies. As que melhor se adaptam seguem o rumo. As girafas
nasceriam com pescoços curtos ou longos por acaso (variações genéticas). Mas
somente as com pescoço longo sobreviveriam por conseguir alcançar comida em
lugares altos, passando assim seus genes para as próximas gerações. As de
pescoço curto morreriam antes de procriar.
Basalla e Ziman
adaptam estas teorias biológicas para o mundo da tecnologia. Eles acreditam que
as tecnologias evoluem como as espécies biológicas, por acaso, seleção natural,
adaptação, mutação, etc. Há inovações incrementais, pequenas e superficiais,
que vão se desenvolvendo aos poucos ao longo do tempo. Foi assim com a roda,
bicicleta, automóvel, computadores, etc. Mas também conseguimos criar coisas
inteiramente novas (inovações radicais ou de ruptura), como se fossem novas
espécies de tecnologias.
Mas isto já é assunto para outro post.
Referências:
BASALLA,
George. The Evolution of Technology. Cambridge: Cambridge University Press,
1988.
DARWIN, Charles.
On the Origin of Species. 1859.
HIMANEN, Pekka. Desafios
Globais da Sociedade de Informação. Em: CASTELLS, Manuel; CARDOSO, Gustavo (org.).
A Sociedade em Rede - do Conhecimento à acção política. Conferência promovida
pelo Presidente da República, Centro Cultural de Belém, Março de 2005.
KAHNEY, Leander. A cabeça de Steve Jobs - as lições do líder
da empresa mais revolucionária do mundo. Rio de Janeiro: Agir, 2008.
SCHUMPETER, Joseph A. Capitalismo, Socialismo e Democracia. Rio
de Janeiro: Editora Fundo de Cultura, 1961. (Editado por George Allen e Unwin
Ltd., traduzido por Ruy Jungmann). Tradução do original inglês Capitalism,
Socialism, and Democracy.
SMITH, Adam. Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas
da Riqueza das Nações (A Riqueza das Nações). 1776.
ZIMAN, John (editor). Technological
Innovation as an Evolutionary Process. Cambridge University Press, 2003.
Um comentário:
Acho que a melhor invenção tecnologica da raça humana e que ainda não foi substituida é o cerebro humano.
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